terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Aos trabalhadores do mundo e da Europa

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Uma convocação dos trabalhadores do mundo contra a onda mundial de medidas de austeridade, produzida pelos participantes na “Assembléia Geral Gare de l'Est e Ile de France”. Traduzido por L.M. Original em inglês aqui.
 

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Aos trabalhadores, desempregados, e estudantes da Europa

Somos um grupo de trabalhadores de diferentes indústrias e setores (ferroviários, professores, técnicos, temporários...), tanto trabalhando quanto desempregados. Durante as recentes greves na França, nos juntamos para formar uma Assembléia Geral de Todos os Ofícios (categorias), primeiro em uma das plataformas da Gare de l'est (uma estação de trem em Paris), depois em uma sala na “Bourse du Travail”. Nosso objetivo era juntar o máximo de trabalhadores possível da reigão de Paris. Porque havíamos cansado da colaboração de classe dos sindicatos, nos levando mais uma vez à mais uma derrota, queríamos nos organizar autonomamente para tentar unificar os diferentes setores em greve, espalhar a greve, e fazer com que os próprios grevistas controlassem o seu movimento.


Contra a guerra social dos capitalistas, os trabalhadores devem travar uma guerra de classes

Na Inglaterra, Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia, França...em todo lugar estamos sob ataque. Nossas condições de vida estão piorando.

Na Inglaterra, o governo de Cameron anunciou que 500.000 empregos vão ser retirados no setor público, um corte de 7 bilhões de libras foi planejado nos orçamentos sociais, a mensalidade universitária triplicou, etc...

Na Irlanda, o governo de Cowen acabou de diminuir o salário minímo por hora em 1 euro (mais de 10%), e pensões em 9%.

Em Portugal, os trabalhadores enfrentam um desemprego recorde. Na Espanha, o grande “socialista” Zapatero está cortando em todo lugar: seguro desemprego, seguridade social, saúde...
Na França, o governo continua a sucatear nossas condições de vida. Depois da nossa aposentodaria, vem a saúde. O acesso à tratamento médico está ficando cada vez mais difícil e caro: cada vez mais remédios não são reimbolsados, planos de saúde estão aumentando o preço, hospitais estão demitindo. Como todos os outros serviços públicos (o correio, gás e eletricidade, telecomunicações), o serviço de saúde está sendo sucateado e privatizado. Como resultado, milhões de famílias de trabalhadores não conseguem mais ser atendidas!

Essa política é vital para os capitalistas. Frente o desenvolvimento da crise e o colapso de setores inteiros da economia capitalista, eles acham cada vez mais dificuldade em encontrar mercados onde o seu capital pode gerar lucro. Consequentemente, eles estão com mais pressa ainda de privatizar serviços públicos.

No entanto, esses novo mercados oferece menas válvulas de escape produtivas do que os pilares da economia mundial como construção, petróleo, ou a indústria de carros. Até mesmo na mais favorável das circunstâncias, eles não permitir à economia tomar impulso de novo.

Nesse contexto de colapso generalizado, a luta por mercados entre os grandes trustes internacionais mais se acirrar ainda mais. Vai se tornar uma questão de vida ou morte para os investidores de capital. Nessa luta, cada capitalista vai tentar se refugar atrás de seu Estado para se defender. Em nome da defesa da economia nacional, os capitalistas vão tentar nos arrastar para dentro da sua guerra econômica.

Nessa guerra, as vítimas são sempre...os trabalhadores. Se escondendo por trás da defesa da economia nacional, cada classe dominante nacional, cada Estado e cada patrão vão tentar diminuir “custos” de modo a manter a sua “competitividade”. Concretamente: eles não irão parar de atacar as nossas condições de vida e de trabalho. Se deixarmos eles se safarem com isso, se concordamos em “apertar os cintos”, não haverá fim para esses sacrifícios. Eles irão terminar colocando nossas próprias vidas em questão!

Trabalhadores, nos recusemos a deixar que nos dividam por ofício, categoria ou nação. Nos recusemos a travar essa guerra econômica dentro ou fora das nossas fronteiras nacionais. Lutemos juntos, e vamos nos unir na luta! Nunca as palavras de Marx foram mais urgentes: “Trabalhadores de todos os países, uni-vos!


Depende de nós, trabalhadores, controlar as nossas próprias lutas
Hoje em dia, são os trabalhadores na Grécia e na Espanha, os estudantes na Inglaterra, que estão em luta contra governos que – sejam de esquerda ou direita – são os servidores das classes dominantes. E como nós na França, vocês estão contra governos que não hesitam em usar da repressão violenta contra os trabalhadores, desempregados, universitários e estudantes escolares.

Esse outono na França, nós tentamos nos defender. Fomos para as ruas aos milhões para mostrar nossa recusa em aceitar esse novo ataque. Lutamos contra a nova lei de aposentadoria, e contra toda as medidas de austeridade a que estamos sujeitos. Dizemos “Não!” ao crescimento da pobreza e da precarização.

A intersyndicale (comitê conjunto dos sindicatos à nível nacional e local, nota do tradutor) nos levou intencionalmente para a derrota lutando contra qualquer extensão do movimento grevista.
Em vez de quebrar as barreiras entre categorias e setores para unir trabalhadores, ela manteve as reuniões de assembléia fechadas em cada local de trabalho fechada para outros trabalhadores;


  • Ela realizou ações espetaculares para “bloquear a economia” mas não fez nada para organizar piquetes de greve ou piquetes voadores/volantes que poderiam ter trazido outros trabalhadores para dentro da luta – que é algo que alguns trabalhadores e temporários tentaram fazer.
  • Ela negociou a derrota pelas nossas costas, e sob portas fechadas de gabinetes ministeriais
A Intersyndicale nunca rejeitou a lei das aposentadorias, ela até repetiu à exaustão que era uma lei “necessária” e “inevitável”! Caso ouvíssemos os sindicatos, deveriamos ter nos satisfeito com a exigência de “mais negociação entre governo, sindicatos e patrões”, ou “mais medidas para fazer a lei mais justa”...

Para lutar contra todos esses ataques, não podemos contar com ninguém além de nós mesmos. Defendemos nesse movimento a necessidade dos trabalhadores se organizarem nos seus locais de trabalho em reuniões soberanas de massa (“assembléias gerais”), de coordenarem a greve nacionalmente e dirigí-la por meio de delegados eleitos com mandato imediatamente revogáveis. Só uma luta liderada, organizada, e controlada por todos os trabalhadores – tanto em seus métodos quanto em seus objetivos – pode criar as condições necessárias para a vitória.
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Sabemos que a luta não terminou: os ataques vão continuar, as condições vão ficar cada vez mais difíceis e as consequẽncias da crise capitalista só vão se agravar. Em todo lugar, no mundo inteiro, teremos que lutar. E para isso temos que encontrar novamente confiança em nossa pŕopria força:


  • Nós podemos controlar nossas próprias lutas e organizar-nos coletivamento.
  • Nós podemos discutir em conjunto de forma fraterna e aberto, e podemos falar livremente uns com os outros
  • Nós podemos controlar nossas próprias discussões e nossas decisões soberanas.


Nossas reuniões de massa não devem ser controladas pelos sindicatos, mas pelos próprios trabalhadores.
Teremos que lutar para defender nossas vidas e o futuro de nossas crianças!
Os explorados do mundo inteiro são irmãos e irmãs da mesma classe!
Só a nossa unidade através de todas as fronteiras nacionais pode derrubar esse sistema de exploração.


Participantes da AG Interpro “Gare de l’Est et Île de France”
Nos contate: interpro@riseup.net


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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Esperança contra esperança -- uma quebra necessária


Comentário sobre algumas das contradições no movimento estudantil inglês de 2010 e suas exigências por um “direito à educação”. Original em inglês aqui. Traduzido por L.M.
MillbankO que foi tomado deles para lhes dar tanta raiva? Esperança, isso é que foi. Esperança, e a frágil bolha de aspiração social que nos sustentou durante décadas de desigualdade crescente; esperança e a crença de que se trabalhássemos duro e fizéssemos o que mandassem e comprássemos as coisas certos, pelo menos alguns de nós conseguiriam os bons empregos e lugares seguros para viver que nos prometeram.
- Laurie Penny, New Statesman, 3rd Dec 2010
Uma única imagem de um dia de movimento demarca as noções antagônicas de esperança. Uma bota através de uma janela de Millbank alimentou os sonhos de resistência com que muitos na Esquerda ansiavam desde que se começou a falar de austeridade. A mesma bota colocou a questão que se mostra nas ocupações universitárias que a precederam e que surgiram desde então: a nossa esperança é do quê, exatamente?

A questão de como os estudantes inspiraram muitos a agir, participar e se organizar para combater os planos de austeridade do governo é importante. Trata-se de um questão que potencialmente contrasta com a visão dos próprios estudantes. Porque – sejamos claro – não é necessariamente (ou mesmo principalmente) a Universidade ou a sua defesa que mobiliza os desejos e sonhos fora do movimento estudantil. A defesa do “direito a educação” pode ter sido o que desencadeou as revoltas de estudantes, mas aqueles de nós que não estão estudando entraram nisso porque queremos, mais do que qualquer coisa, resistir e lutar. E pra resistir e lutar você precisa saber que a resistência é possível, que você não ficará sozinho, e que você pode vencer. Porque a maior parte da resistência até agora ao regime de austeridade tem sido passada e pouco inspiradora – uma greve traída aqui, uns trabalhadores demitidos ali.

Pequenas vitórias e milhares de palavras sobre um levante inevitável, de uma insurgência contra a reestruturação. A bota atravessando a janela nos levou adiante da retórica e dos anseios. Ela mostrou a fúria e a vontade de lutar. Mostrou policiais desnorteados e despreparados, escritórios do Tory saqueados e a beleza dos excessos de um momento insurrecional. Foi inspirado porque era realmente mágico, e pessoas viram por elas mesmas que batalham podiam ser travadas, que a gente iria lutar, e que vencer era possível.

Mas além disso qual a sustentação do “direito á educação”? Porque esse era o ponto inicial para o motim e o laço que une as manifestações, marchas e ocupações. Os cortes na Education Maintenance Allowance (bolsa estudantil), a demissão de departamentos universitários inteiros e inúmeros funcionários, e o aumento das mensalidades. A reestruturação é um ataque à educação como ela existe na Universidade; uma revisão completa de quem pode acessar o quê. É talvez tomado como dado que todos 'nós' apoiamos o direito à educação, e que todos nós estamos unidos na nossa defesa da Universidade. Mas e se não estivermos?

E se for apenas a nossa fúria e não nossas esperanças que estão unidas? E se estivermos juntos apenas pela luta, mas não pela vitória?

Laurie Penny mostra a grande motivação por trás do motim – esperança. Ou melhor, a reestruturação dela e sua futura escassez. Reestruturação e escassez porque esperança não é algo eterno ou efêmero. Esperança é uma coisa material, produzida e distribuída por canais sociais e instituições. Instituições como a Universidade.

O que queremos dizer por esperança socialmente produzida? Sociedades diferentes produzem diferentes tipos dela. Na verdade, cada sociedade diferente produz diferentes tipos dela. A esperança é uma força mobilizadora e organizadora que estrutura a direção e as possibilidades de nossas vidas. Assim como a memória molda o nosso entendimento do passado e como percebmos o que somos hoje, a esperança define a nossa compreensão do futuro – o que haverá, o que poderia haver, quem e como nós tornaremos algo mais do que somos hoje. Esperança e memória dão forma e propósito a nossas ações; elas dão significado à nossas vidas.

Existem versões em competição de esperança em uma determinada sociedade, mas também há um forma hegêmonica de esperar. Para nós, vivendo num mundo a-ser-neoliberal, essa forma hegemônica é aspiração. Mas não aspiração no sentido de ambicionar à grandeza em algum sentido heróico Grego, ou algo romântico e colorido. Não, para nós aspiração tem um tom e matiz bem particular – que significa mobilidade social. Esperança é individual em nosso mundo, nunca coletiva – a esperança de empreendedores sonhando com a grande sorte. Não apenas subindo a escada mas se sobrepondo a todos os outros. Esperamos mobilidade social. Que é exatamente como Penny mostra, assim como a maioria dos cartazes nas ruas. Esperança, a forma dominante de esperança, é para se dar melhor que seus pais.

A esperança não é distribuída de forma uniforme – quais esperanças existem e quem tem acesso a elas dependem de onde você se localiza (seja você pobre, ou negro, deficiente, mulher, jovem, morador do interior, etc). A esperança neoliberal – a aspiração – está cada vez mais restrita a um circulo cada vez menos de pessoas: aqueles que ainda vão bem na atual crise; aqueles que estão acima do tampão do 'meio apertado'. Para o resto, resta a loteria. (Pra ser claro, têm havido gente “sem futuro” (sem chance) por bastante tempo – uma sub-classe vivendo um tipo de morte social de vidas sem sentido e direção, escondidos sob Anti-Social-Behavior-Ordens (Ordens de Prevenção de Comportamento Anti-Social) em reformátorios¹. Mas essa vai se tornar a norma para muito,muito mais gente.)

Isso por sua vez gera uma escassez de esperança e um aumento no número de pessoas sujeitas à morte social – uma vida definida como sem futuro e dessa forma, sem sentido. Uma vida encurralada sem lugar nenhum para ir. Isso gera uma crise de expectativa que pode se manifestar em um número de formas. A mais óbvia é ressentimento contra aqueles que ainda tem esperança. Também é visível nas tentativas desesperadas de retomar alguma esperança – por meio de memórias de privilégios por nacionalidade, raça e gênero (como os mobilizados pelo BNP).

A atual crise é um ponto de viragem de uma economia mista de esperança – onde política neoliberais e subjetividades pressionam contra as formas mais antigas de direito e ideais de justiça e mobilidade social. Estamos vivenciando o parto de uma era verdadeiramente neoliberal onde significado, expectativa e o próprio futuro são escassos e estão fora do alcance da maioria de nós.

É aqui, na articulação de uma nova ordem social e no colapso dos direitos remanescentes do Estado de Bem Estar, que a reestruturação da esperança vem a ser percebida como uma crise de expectativa. Estamos entrando em uma era de escassez do futuro. 

Está claro que os estudantes estão se revoltando contra a perda dessa esperança e desse futuro. A mobilidade social (tal como atualmente existe) está sob ataque. O 'meio apertado' e seus filhos se tornarão, como a existente subclasse, uma nota de rodapé das histórias maiores e mais felizes de profissionais bem sucedidos. A revolta estudantil fala para todos nós como a primeira revolta aberta contra a expansão da morte social e o colapso da circulação mais geral da aspiração.

Então a perda de direitos é real, e a revolta também. Mas devemos parar aqui e perguntar se esse é o fim da história contada pela bota. Será que aquele garoto chutando a janela realmente só queria se dar melhor que seus pais? Será   que ele realmente queria manter a Universidade como ela está?

Vamos voltar à ideia por trás da aspiração neoliberal – mobilidade social. Mobilidade social significa progredir, se dar melhor que seus pais e seus rivais: significa que enquanto você anda outros tem que ficar parados. Mobilidade social precisa de perdedores e ganhadores. Expectativa – ou aspiração – confirma o mundo desigual em que vivemos. E a educação – esse processo formal de diferenciação, onde alguns terminam com títulos e contatos e outros com empregos sem futuro – é essencial para a criação e manutenção dessa desigualdade. Ela reforça o papel da Universidade em distribuir de forma desigual significado, possibilidades, empregos e outras formas de riqueza social. Colocado desta forma, o direito à educação significa o direito a ser desigual. O direito à educação serve para sustentar o mito da meritocracia – o mito de que é por meio de trabalho duro e habilidade e não conexões, posição de classe e privilégio, que as pessoas chegam aonde estão hoje. O direito a uma educação significa que se você for bem em provas padronizadas (com a ajuda de ter certas condições económicas, ir para a escola certa e ter uma vida familiar estável) então você merece ir para a Universidade e firmar seu lugar perto do topo da hierarquia social (se você conseguir entrar numa universidade relativamente decente, ainda que não saibamos quantas universidades 'ruins' vão restar após os cortes). A quebra do direito à educação – pela falta de empregos para graduandos (como é o caso atualmente), ou aumentando os custos para 'conquistar' um título, colocando-o assim fora do alcance de todos exceto os muito ricos – é a quebra do direito de não ser da classe trabalhadora.

Olhando dessa forma, através do vidro quebrado, nós podemos ver que o motim foi além da mera aspiração. Assim como as ocupações de universidade foram além da simples questão do “direito à educação”. A alegria encontrada na revolta transborda os limites do desejo vulgar de ficar na frente( dos outros).

Mas aqui nós (tanto os que são estudantes quanto os que não são) nos encontramos num duplo dilema. Precisamos defender a mobilidade no mundo tal como ela está – a sua defesa é a defesa das vidas atualmente existentes e da real possibilidade de ter uma existência social significativa. E também precisamos defender o financiamento da educação como ele está agora. A resistência a pagar mais por educação é a defesa dos ganhos sociais feitos por gerações passadas e a defesa do salário social. E defendê-lo (o salário social) é exatamente o que muitos estudantes (e vários de seus apoiadores) estão fazendo. Mas ao meramente defendê-lo estamos defendendo a mais sagrada das liberdades neoliberais – a liberdade de ser desigual. A defesa dessa liberdade significa a defesa da Universidade como um mecanismo de “filtro” instalado para nos segregar entre educados e sem educação; entre aqueles que tem acesso a uma “carreira profissional” e aqueles que não tem. Aqueles cujas vidas tem significado e aqueles cujas vidas não tem.

Então devemos ir além da mera defesa. O motim tem tanto a ver com sonhos que ainda não se tornaram possíveis quanto com a perda de direitos atualmente existentes. Há esperanças dormentes ou escondidas que falam de caminhos diferentes de ser; de diferentes tipos de sonhos e futuros. A crise de esperança e a escassez de futuro que virá para muitas pessoas é um quebra que faz possível um tipo de esperança de diferença – uma esperança contra a expectativa, violentamente contra a aspiração e a fria conformidade.

As revoltas estudantis são a fratura na fachada. Os estudantes sentem que não apenas suas vidas estão mudando, mas que o mito da mobilidade que vêm sustentado a Universidade nos últimos anos está sendo liquidado. Esses são os primeiros protestos na Inglaterra a contestar a mudança de significado da esperança, e a austeridade de sonhos que anuncia o futuro neoliberal.

Mas para ser honesto e coerente à revolta e à promessa de um tipo diferente de esperança, mais uma quebra é necessária. Uma quebra da Universidade e da educação como ela é atualmente. Pois aqui percorremos um círculo completo.

Porque se os protestos e ocupações falarem apenas da importância da educação, e da necessidade de defender a Universidade, o movimento vai definhar rapidamente. As pessoas podem ver claramente o que a Universidade é agora.

A janela está quebrada. Podemos ver claramente que a Universidade é uma máquina que cria a morte social.

Eventualmente a inspiração da luta e vitória inicial irá enfraquecer, e o conteúdo da revolta vai ter que se sustentar em si mesmo. Se o conteúdo dessa luta for apenas o de restaurar essa máquina,o de defender a liberdade de ser desigual, fracasso é tudo que podemos esperar.

Mas se a luta coloca em questão a própria existência de tal máquina, e reabre a questão do aprendizado em oposição à educação – para o auto-desenvolvimento, a exploração do interesse e da inclinação, e para garantir a navegação da curiosidade e do desejo; em suma, o aprendizado como uma forma de criar novas possibilidades e significados – então a janela poderá continuar quebrada por um bom tempo.
N, Dezembro de 2010
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NOTAS DE RODAPÉ:
[1] Estou falando da forma hegemônica de expectativa aqui. Aqueles sem esperança no sentido normativo convencional frequentemente resistem através da produção de visões e sonhos alternativas; outros tipos de esperanças e sociabilidades, rejeitando de pronto os limites do convencional e da ética-da-aspiração.

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Canção Anônima

Eles tem códigos e decretos.
Eles tem prisões e fortalezas.
(sem contar seus reformatórios!)
Eles tem carcereiros e juizes
que fazem o que mandam por trinta dinheiros.
Sim, e para que?
Será que eles pensam que nós, como eles,
seremos destruídos?
Seu fim será breve e eles hão de notar
que nada poderá ajudá-los.

Eles tem jornais e impressoras
para nos combater e amordaçar.
(sem contar seus estadistas!)
Eles tem professores e sacerdotes
que fazem o que mandam por trinta dinheiros.
Sim, e para que?
Será que precisam a verdade temer?
Seu fim será breve e eles hão de notar
que nada poderá ajudá-los.

Eles tem tanques e canhões,
granadas e metralhadoras
(sem contar seus cassetetes!)
Eles tem policia e soldados,
que por pouco dinheiro estão prontos a tudo.
Sim, e para que?
Terão inimigos tão fortes?
Eles pensam que podem parar,
a sua queda, na queda, impedir.
Um dia, e será para breve
verão que nada poderá ajudá-los.
E de novo bem alto gritarão: Parem!
Pois nem dinheiro nem canhões
poderão mais salvá-los. 

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Entre Palhaços e Sindicatos

Texto inspirado em uma manifestação organizada pelo Sindicato dos Professores Municipais de Goiânia. Ainda por terminar, mas tem coisas interessantes!


Em 1844, Karl Marx, em sua Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, já dizia: "A última fase de uma formação histórico-social é a comédia". Houve épocas em que, com o aumento da população, a coletividade só podia sobreviver praticando o canibalismo. A comédia começou quando, mesmo após a caça sistemática ter provido a tribo de recursos suficientes, os feiticeiros continuaram a persuadir membros da tribo a serem devorados.
Hoje, estamos vivendo novamente uma era de comediantes. Os primeiros a se revelarem são justamente os gestores mais imediatos e grosseiros do capital: trata-se da burocracia sindical e política. Armados da mais poderosa inépcia, incompreensão e incapacidade, eles fazem da política do capital uma grande piada de mau gosto. Os primeiros, dos quais trataremos nesse texto, por agirem como se tivessem poderes e capacidade oratória, manipulativa, que eles já não tem. O desencontro com a realidade seria trágico, se não fosse cômico; afinal, apesar deles não perceberem, a própria dinâmica do capitalismo tornou a sua máquina organizativa, os sindicatos atrelados ao estado, ultrapassados: e o que são sindicalistas sem máquina?
Eles são o que vemos hoje em dia: pequenos humoristas! Vejamos, por exemplo, o modo como organizam suas marchas e revindicações hoje em dia:
  1. O primeiro passo é lotar ônibus com gente, o maior número possível de pessoas, só que sem muita propaganda. Propaganda dá muito trabalho e pode fazer surgir um debate, que a máquina não pode mais controlar. Então, o maior número possível com a menor qualidade organizativa necessária.
  2. No ônibus, os dirigentes não se dão ao trabalho de simular uma discussão. Apenas apresentam um programa que não se sabe de onde vem, para em seguida discorrer sobre o que realmente importa: o lanche, o almoço e a hora de ir embora. Por quê, onde, como? Não se sabe, não importa: apenas façam o que queremos e tudo terminará bem.
  3. Deveria ser feito um manual do discurso sindicalista: Fale, grite, rosne; cite números, estatísticas, 50% de aumento em sabe-se lá o quê, taxas com siglas obscuras, exija e ameace com sua retórica. Não se esquecendo do mais importante: as pessoas devem tratar o que você fala como música de fundo, ou como mais um ruído que atrapalha a conversa.
  4. No protesto propriamente dito, negocie. Não importa com quem, nem por que. Negocie e deixe os azarados ou “espertos” que te seguem esperando. Negocie até acabar a parte relevante e todos ficarem mais desmotivados ainda com tudo isso. Acima de tudo: não discuta com seus co-manifestantes o que está acontecendo. Isso atrapalhará o processo de desmotivação.
  5. Logo depois vá embora. Sem explicação: diga que o trânsito está ruim, que alguma coisa (se não for vago, não vale) deu errado. Então volte no ônibus e cuidadosamente recuse qualquer discussão. Faça piadas e converse, mas não incentive discussão! Aja como se fosse um guia turístico, acima de tudo.
Se hoje em dia a comédia não convence mais ninguém, o personagem não se importa: cumpre seu papel. Ele não percebe que se riem da sua atuação, é por desprezo e não admiração.

(Continua)

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Bem Vindo ao Deserto do Rio (parte 1)

Rio de Janeiro: A Arte de Enxugar Gelo

Como se fosse um velho filme que nunca parece sair da programação de reprises, vemos de novo cenas já tão familiares que nem conseguem mais despertar tanto interesse assim, mesmo com o impacto da violência explicita.

A eterna reprise segue o mesmo padrão de costume. Autoridades fazendo solenes declarações de que “desta vez” haverá solução para o problema da violência nos morros do Rio de Janeiro, policiais e militares explicando suas “táticas operacionais” e apresentadores de TV histéricos se alimentando da tragédia dos outros.

Nos programas de entrevistas, graves doutores “da direita” pontificam sobre a necessidade de se aumentar a repressão aos “bandidos”. Outros graves doutores “da esquerda” repetem seus discursos sobre a pobreza e o descaso para com os moradores das favelas. Para os primeiros, tudo é uma questão de “falta de rigor” com a “bandidagem”. Já para os segundos é tudo um “problema social”.

Em toda essa encenação, só uma coisa é certa: Nada vai mudar e o filme vai ser visto de novo. Até as pedras da rua sabem disso. Existe até um consenso entre os policiais mais experientes de que tudo não passa de um processo de “enxugar gelo com toalha quente”.

E por que tudo parece tão perfeitamente inútil? A resposta é simples: O problema das drogas é econômico e não tem nenhuma relação com “polícia versus bandido”.

A impressão que se tem é que todos os “especialistas” no assunto parecem simplesmente fazer de conta que não entendem o que está absolutamente óbvio: A violência nos morros é só um desdobramento de uma atividade bilionária que o poder público se recusa a reconhecer.

O poder do tráfico não vem das armas ou da violência intimidadora dos traficantes. Vem da renda líquida e certa da venda de drogas que atendem uma demanda sempre segura e relativamente indiferente a essas ações de pirotecnia. Os jovens aliciados para o tráfego não são atraídos por um misterioso gosto pelo crime ou por serem vítimas da pobreza. São atraídos pela mais antiga e irresistível força do capitalismo: A busca pelo lucro.

Em outras palavras, a “guerra das drogas” consiste de uma sociedade capitalista lutando contra o capitalismo!

O que devia ser discutido por todos é o que menos parece interessar: Por que a demanda por drogas é tão grande e mobiliza tantos recursos? Por que as drogas devem ser ilegais já que tantos parecem querer consumi-la? Ao invés disso, vemos uma cacofonia de “discussões bizantinas” que misturam táticas militares com “ações sociais”. Pura perda de tempo... 

Por Lauro Augusto Monteclaro

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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ao mestre, com carinho:

Você não é nada sem a minha obediência.

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

França - O Outono Frio Começa a Esquentar



Apesar do clima frio, e da falta crescente de gasolina, o movimento social está esquentando, alimentado por diversão, fogo e fúria. “Operações Tartaruga”, greves, mini-insurreições, bloqueios de escolas, Assembléias Gerais, ocupações, e hoje a quarta Greve “Geral” de 24 horas desde sete de Setembro... mas onde tudo isso está indo? Quais contradições não estão sendo confrontadas? Continue lendo...

Motoristas de caminhão se juntaram ao movimento ontem, com o objetivo explícito de “bloquear a economia”. “Operações Tartaruga” (andar devagar nas principais estradas e rodovias) em volta de Lille, Toulouse, Lyon, Bordeaux, sul de Paris, Tours, Frontignan, Arras, várias partes da Normadia e muitos outros lugares – oficialmente houve mais de 30 “tartarugadas” em 15 cidades diferentes ontem (Outubro 18). Isso, no dia anterior à chamada Greve “Geral” convocada para hoje, Terça Feira (19 de outubro). “Geral” entre aspas porque claramente muitas pessoas continuaram trabalhando nos setores que oficialmente entraram em greve. Algumas das “operações” duraram apenas 20 minutos, mas outras continuaram por várias horas. Some of these 'go-slows' lasted only 20 minutes, but others for several hours. Operações tartaruga para carros regulares só aconteceram na pista de alta velocidade, porque caminhões grandes não são permitidos nelas.
Vários depósitos de petróleo foram bloqueados. Apesar das afirmações do governo no Domingo de que apenas 200 estações de petróleo foram fechadas, a organização responsável por produzir estatísticas sobre as estações disse ontem – Segunda-feira – que 1500 estão fechadas; e a quantidade de postos de gasolina em que se esgotou a gasolina deve ter sido muito maior que isso. Essa deficiência é devida tanto às greves e bloqueios das refinarias quanto à greve dos estivadores, que deixou pelo menos 60 petroleiros presos no Mediterrâneo, sem poder embarcar.

Liceus (colégios de ensino médio) continuam a ser bloqueados (oficialmente – de acordo com o Ministro da Deseducação – 260, mas 600 de acordo com a UNL – União Nacional dos Estudantes de Liceu)

Houve pequenas rebeliões e confrontamentos com a CRS (polícia de choque contra manifestações) em pelo menos cinco cidades – em Nanterre, Lyon, Lille, Mulhouse e Borges. Os chamados “casseurs” (literalmente “quebradores”: veja esse texto de 1994 em Inglês: http://libcom.org/library/1994-nous-sommes-tous-des-casseurs)
In Marseille os lixeiros estão greve faz mais de uma semana (juntando-se aos estivadores e trabalhadores de refinarias). O lixo está transtornando os turistas, que estão ansiosos para consumir as novas áreas gentrificadas, introduzidas por artistas e pela construção de uma nova trilha de bonde, livre do fedor de proletários revoltados. O prefeito também está contrariado. Marseille já está se preparando para o ano em que vai se tornar a Capital Cultural da Europa em 2013. Com a Ryanair retirando a sua linha aérea de lá, dando ao termo “vôo de capital” um sentido quase literal, o projeto de trazer os clientes das quatro pontas do globo pode muito bem ter sido arruinado. Toda aquela regeneração gloriosa com uma superfície limpinha, desenhada para reduzir todo senso de passado em uma foto turística, foi destruída pela subversão radical. Como um lixeiro disse, “Somos o proletariado, não podemos só sentar e girar nossos polegares.” Apesar disso possivelmente vir de um membro do velho estilo do Partido Comunista, na atmosfera da ideologia Republicana em que todo mundo é encorajado a se definir como um “cidadão” se trata de um lembrete refrescante da verdade social antagonística básica. Uma jovem de 16 anos de Marseille, Sarah Jlassi, acrescentou que “Isso já foi além das pensões, se trata da nossa sociedade injusta e dividida.” Apesar disso certamente não estar no centro do movimento, jovens na mídia e na rua, de todas as origens, estão constantemente dizendo o quanto seus pais estão estressados depois do trabalho, e o quanto eles não conseguem se comunicar com eles por isso.

Alguns anos atrás, o prefeito trouxe o exército para limpar o lixo. Se ele vai fazer isso de novo no atual clima bem mais generalizado de guerra de classes, não se sabe, mas ele poderia acabar encontrando uma frustração bem maior que a Ryanair brincando de ser difícil. E isso com certeza a longo prazo – a chamada “cena radical” vem se organizando a muito tempo contra a gentrificação e o lixo cultural que vai encher as ruas em pouco mais de dois anos (uma tradução desse texto sobre arte e gentrificação vem se tornado muito popular nos últimos 18 meses)
Em Languedoc-Roussilon, onde eu vivo:

Em Nimes (no estado de Gard), todos os lycees estão fechados, e houve sit-ins na prefeitura.
Ales (também em Gard), um bloqueio das linhas de trem, com fogo pra manter as coisas quentes.

Bombeiros entraram em greve por toda a Gard, respondendo apenas aos chamados mais urgentes.
Em Pepignan, 150 grevistas bloquearam um depósito de petróleo por quatro horas, com pneus queimando por toda a estrada. Um motorista de trem apoiando o bloqueio disse na televisão, “Isso não é sobre a aposentadoria, mas sobre todo o futuro dessa sociedade”, embora existam tantos modos de entender as implicações disso quanto pessoas que se sentem da mesma forma. 200 professores ocuparam uma instituição estatal local (não sei bem qual). Um carro de bombeiro foi atacado com pedras.

Em frontignan, perto de Sete, 300 motoristas de trem e de caminhão, além de outros, bloquearam um depósito de gasolina, começando muito cedo na madrugada – interrompendo a distribuição em três municípios. Um motorista de trem disse que “Estamos fazendo isso pelo futuro – pelos nossos netos”, apesar deles também estarem claramente fazendo aquilo por eles mesmos. Os policiais, precedidos por um prefeito muito razoável e gentil pedindo uma dispersão calma, desbloquearam o depósito no meio da tarde sem resistência – 300 pessoas, num lugar relativamente isolado, não sendo suficientes contra policiais armadas com spray de pimenta e bombas de efeito moral.

No entanto, a expulsão foi imediatamente seguida por uma mini-Greve Geral na área de Frontignan. Aude também teve o bloqueio de um depósito de óleo até o meio da tarde.

Em Montpellier o “concierge” (escritório de segurança e vigilância) de um lycee foi completamente destruído por fogo. E muitas das janelas desse lycee foram “quebradas” (são janelas muito grossas da alta segurança, então nenhuma delas despedaçou) por mais ou menos 50 jovens encapuzados Um professor, que possivelmente discordou desse ataque razoável, teve um molotov jogado em sua direção, que não a alcançou ou feriu de forma alguma. Ela os chamou de terroristas. A escola foi evacuada.

Na sexta feira 15 de outubro, mais ou menos 60 jovens atacaram o bloqueio de um liceu de alto nível em Montepplier (“Joffre”) – policiais do BAC (brigada anticrime) e suspeitos de serem do RG (equivalente do Serviço Especial) foram vistos em seus carros do lado de fora, saindo apenas um minuto antes da multidão de jovens chegarem. Esses jovens também atacar estudantes “universitários” (estudantes de 12 a 15 anos), e depois atacaram outra escola ali perto, dessa vez passando pelos dormitórios roubando o que podiam. Um carro com um casal dentro foi virado fora dessa escola, e aparentemente um motorista de bonde foi esfaqueado na mão. Um radialista disse a uma adolescente que ele estava entrevistando que ele teve informação por dentro de que eles haviam sido manipulados pela polícia, só que ele nunca divulgou nada disso (provavelmente por medo de perder o seu emprego). Claramente, no entanto, as degradações da vida nos subúrbios e a mentalidade de gangue que a sobrevivência engendra significam que alguns jovens não precisam ser manipulados – eles vêem tudo em termos de um mundo em que um cachorro come outro cachorro, e vai ser necessário um risco considerável de um diálogo entre aqueles jovens que se identificam com e participam de um movimento social geral e aqueles mais niilistas só que sem direção (ou objetivos) para mudar isso em vantagem para ambos. Certamente apontar dedos de forma moralista é a última coisa que vai influenciar qualquer mudança nessa área: esse tipo de gesto faz parte do mundo que eles estão certos em desprezar, mas não podem ver ou lutar contra ou realmente achar qualquer caminho para for a dele. E a situação não é melhorada pelas condenações generalizantes de qualquer coisa que envolva violência como coisa de “casseurs (quebradores) que não tem nada a ver com o movimento”. A imprensa local estava cheia de condenação por esses atos (apesar de alguns dos piores, surpreendentemente, não terem sido noticiados), mas quando o diretor do Lycee Joffre bateu o portão na mão de uma estudante participante do bloqueio e quebrou o seu pulso, isso foi considerado um “acidente”. Em outra escola na cidade, um professor anti-bloqueio que estava dentro do prédio empurrou uma barreira construída pelos estudantes de volta na calçada, quase machucando seriamente os rostos de alguns jovens. Um pai que educadamente avisou o professor dos perigos do que ele estava fazendo levou um soco na cara logo depois pelo mesmo professor. Mas críticas em bloco dos “casseurs” são um meio conveniente de ignorar essas contradições, e de não olhar para o que é bom e justificável e o que é doentio/equivocado nas ações dos “casseurs”.


Jovens do ensino médio cantaram essa semana: “No parlamento os Primeiros Ministros batem punheta o dia inteiro” (isso rima em francês e eles cantam).

Mais poderia ser dito, e eu não fui sequer capaz de desenvolver as respostas às questões colocadas na introdução, mas eu tenho que ir agora. Desculpas pelo atraso e insuficiência disso: problemas com a internet, com o computador e pessoais causaram o atraso...

Samotnaf
19 de Outubro de 2010
 Traduzido por L.M. Em 27 de Outubro de 2010

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

A beleza inevitável das revoltas, no caso em França

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ei, você...

"Você, meu camarada, você que eu não percebi no meio do tumulto, que se sente pisoteado, com medo, sufocado - venha, fale comigo."

Você já se perguntou o que ia acontecer? E o que fazer?
Você se conhece? E o que pensa conhecer? O que você quer saber?
Você se sente feliz?
E agora?

Já cansou de compartilhar a sua miséria? Ou assistir a "felicidade" alheia?
Por que não se juntar à festa?
Por que não fazer algo que realmente te interesse?
Do que você tem medo?
O que tem medo de você? Quem?
Quem é você?
 Nunca cansa de fingir?


L.M.
2010, Pasargada

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domingo, 17 de outubro de 2010

"A verdade é revolucionária", já diziam as velhas alemãs

Para exibir a verdade, basta repetir o que já foi dito, dentro do menu daquelas escolhas que, curiosamente, já foram escolhidas. Contemplar a mim mesmo vender a minha voz. Publicidade. Senso comum. Opacidade aberta, desconfiança. Linhas do partido ou da empresa. Papel.

Para expressar uma verdade, é necessário antes de tudo ser verdadeiro, ser pessoalmente verdadeiro, implacavelmente verdadeiro, sensualmente verdadeiro. A nossa própria impressão ou experiência não admite compromisso, meia-voz, meia-mentiras, amenidades. Sermos transparentes, antes de tudo para nós mesmos, naquele momento.

Aqueles que são verdadeiros consigo mesmos, demonstram, comunicam a sua verdade e se fazem vulneráveis. Abrem-se, inclusive, para a crítica. Ao expressar a sua diferença criam condições para um diálogo entre iguais e para uma verdadeira comunidade.

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Greve Geral na França


Traduzido e adaptado do original em inglês em Libcom por L.M. Solidariedade com o proletariado em luta na França e no mundo inteiro!

Anteontem – 12 e outubro – houve uma Greve Geral na França – a terceira em 5 semanas (as outras foram em 7 e 23 de Setembro). Possivelmente 3.500.000 marcharam nas ruas pela retirada da extensão da idade para aposentadoria de 60 para 62 ou de 65 pra 67 para pensões estatais.


A greve foi bastante ampla, afetando tanto o capital francês como o internacional (por exemplo, a empresa Ryanair teve que cancelar 230 vôos). Apesar dela certamente não ter sido total, ela envolveu o controle do tráfego aéreo, trens e ônibus, refinarias, escolas, universidades, setores de gasolina e eletricidade, portos, correios, estações de previsão do tempo (que garantiram que a chuva, pela maior parte, não furasse a greve), coletores de impostos e muitos outros setores – até mesmo algumas polícias municipais entraram em greve (os pobrezinhos estão reclamando publicamente sobre a depressão suicida causada pelo estresse do trabalho). Bloqueios de rua e Assembléias Gerais apareceram bastante e muitos setores vão continuar a greve indefinidamente. 

Muitos liceus (escolas de ensino médio) tomaram parte, com o próprio Ministério da Educação admitindo mais de 230 piquetes (apesar das estatísticas estatais serão apenas um pouquinho mais confiáveis que as eleições em que “99.9% a favor de Ceacescu” dos regimes estalinistas). Muitas das greves nos liceus foram lançadas por meio do facebook ou sms, apesar de haverem algumas associações estudantis, frequentemente com agendas políticas obscuras, por trás delas também.


E, é claro, houve o tradicional mini-motim no fim da manifestação em Paris enquanto a noite caía, sem a qual nenhuma grande manifestação parisiense está completa.


Em si, a greve não soa muito interessante – outra Greve Geral de 24 horas sobre um detalhe de política governamental; um detalhe que, além disso, parece desimportante para aqueles que só podem se aposentar com 65 anos como no Brasil (que está estudando lei similar). Mas esse detalhe está rapidamente se tornando um pretexto para uma crítica total dessa sociedade estúpida e doentia.


Tomem por exemplo esse panfleto anunciando um evento numa escola que vem sendo importante para o desenvolvimento do movimento estudantil:

Avancemos rápido e sem recuo!
Reforma da idade de aposentadoria, ataques a imigrantes, demissões, cortes em massa de seguro desemprego para os desempregados e, mais amplamente, uma repressão crescente sobre todos aqueles que são pobres, jovens ou marginalizados...o Estado quer garantir aos patrões condições “favoráveis” de exploração.

Essa política vai além das fronteiras nacionais. Na Espanha, Grécia, Portugal, Alemanha ou Irlanda...os mesmos “planos de austeridade” são arranjados nos ministérios governamentais. O objetivo dos governantes é dinamizar a economia confrontada pela competição global.
E tudo isso vai nos manter fazendo o nosso serviço monótono, trabalhando duro e “apertando os cintos” no interesse da classe dominante!?
Se se encontra a mesma lógica política nos quatro cantos da terra, é pelas “necessidades” do desenvolvimento económico e certamente não pelas necessidades da população. O sistema capitalista sempre concentra riqueza mais e mais. Os meios de produção são concentrados em menos e menos mãos. Continuando nesse caminho, o sistema só pode intensificar a violência social. Nenhum Estado, nem nenhum governo, vai mudar qualquer coisa. A máquina foi ligada e as instituições que dependem dela botam óleo nas suas engrenagens sem nenhum escrúpulo.
A única força que pode descarrilar essa máquina é a nossa: a força dos explorados, dos excluídos, daqueles sem futuro...é vital intensificar o movimento e organizar a convergência das lutas diferentes. A batalha lançada pelos estudantes de ensino médio, pelos motoristas de trem, pelos estivadores...nasce da mesma recusa em aceitar o destino reservado para nós. A conversa de vendedor de carro usado dos sindicatos e dos partidos esquerdistas apenas reforça as nossas separações em prol de seus interesses e programações eleitorais. É somente agindo em conjunto que nós podemos sair da nosso isolamento e vencer nossas lutas.
A emergência de um movimento social autônomo e radical, necessitando da participação de todos os proletários, é uma necessidade óbvia e cada vez mais urgente, essencial no mundo inteiro.
Seja onde estivermos, vamos nos juntar e lutar para construir uma resistência real e concreta.
Contato: uncollectifenlutte@riseup.net


A greve tem continuado em alguns setores hoje – em Paris, por exemplo, apenas 25% dos trens estavam andando essa manhã, causando engarrafamentos massivos (apesar de que, assim como com as estatísticas do Ministério da Deseducação, essas estatísticas parecem mudar constantemente, mesmo  quando cobrindo os mesmos períodos de tempo, provavelmente dependendo do equilíbrio entre a pressão sendo colocada em cima dos compiladores de estatísticas e o seu uso de cocaína/uísque). E em todo lugar vários liceus que não aderiram ontem estão aderindo agora. Da mesma forma, Assembleias Gerais esporádicas estão brotando em vários lugares, propondo coisas como bloqueio de bancos, interrupção do tráfego de carros por meio do uso subversivo das ruas, ocupações de escritórios de seguridade social – mas até agora permanece por ser visto o que vai vir desse tipo de proposta.

A exigência da retirada do adiamento da idade de aposentadoria dentro do capitalismo é essencialmente uma demanda daqueles que não querem encarar a necessidade de fazer uma revolução para alcançar até mesmo a menor das melhorias na sua condição: o capital só pode retirar essa reforma por meio de ataques ainda maiores – fazendo cortes enormes nos gastos estatais em outro lugar para se recuperar da perda, conjuntamente com aumentos gigantescos nos impostos diretos. Essas pessoas não querem tirar a conclusão revolucionária óbvia que vem mesmo de um detalhe relativamente desimportate da miséria intensificada que é o adiamento da idade de aposentadoria.


Essas pessoas provavelmente vão votar pelo PS (Partido Socialista, um esquema cada vez mais neoliberal com o cabeça do FMI, Strauss-Khan, como seu favorito para o próximo candidato a presidência). O PS está atualmente prometendo diminuir a idade de aposentadoria de volta pros 60 (se eles vão cumprir a promessa é outra questão). Dada a enormidade do deficit estatal, os ataques de austeridade fazem mais sentido dentro do capitalismo do que talvez no Reino Unido (sic. trad.) - que é a razão pela qual o Estado não cede de jeito nenhum e é a razão pela qual toda o blá blá esquerdista tentando ser 'razoável' (dentro de termos capitalistas) não faz sentido – ou se luta por uma comunidade contra o capital com idéias como parte dessa luta, ou você se prende em todo tipo de contradição inutilmente complexa por estar falando a linguagem do inimigo.

Fuga de capitais – desinvestimento – é uma possibilidade a médio prazo e tem que ser levado na discussão como parte do problema da luta internacional. E essa fuga pode/vai acontecer como resultado de uma possível revolta significativa – com ou sem aumento de impostos para os ricos. Argumentos da esquerda do tipo -”vote em nós e tornaremos o Estado seu servo” - ainda parecem presumir uma autonomia relativa de cada estado nação, ou isso ou eles fantasiam que, com a sua subida ao poder nas costas de uma agitação social, essa relativa autonomia poderia ser recuperada; de qualquer forma, é uma perspectiva capitalista utópica e impossível.


É tudo ou nada.

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Agradecimentos a todos que deixaram que nem se precisasse deixar

Aquele detalhe,
nem precisa ser dito, né?

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domingo, 3 de outubro de 2010

Fragmentação

Uma vez que a opressão é delegada na pirâmide do poder por meio de especialistas, a própria opressão é especializada. Enquanto nós estamos extremamente motivados a atacar a opressão que nos afeta mais, se nos concentrarmos apenas na nossa opressão particular (especializada) acabamos jogando na mão dos especialistas do poder.


Lutando contra uma opressão não devemos nunca perder de vista o fato de que se trata de apenas uma parte da totalidade opressiva.


Resistência fragmentária pode conquistar alguma melhoria na nossa condição particular, podemos até conseguir uma vitória - mas pra cada cabeça que cortamos, o monstro cresce outra em outro lugar.

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Aumentando o Padrão de Vida ou Daqui a pouco o Brasil vira uma Potência

"Por que as pessoas dos países livres e prósperos da Europa odeiam a si mesmos e as suas vidas tanto que acabam procurando, e muitas vezes encontrando, a solução definitiva no suicídio?"

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tic Tac Tic Tac Tic Tuc Ta....

Estamos, portanto, o que é um pouco surpreendente, face a uma explicação não muito "materialista" da história. O papel do desenvolvimento das forças produtivas não é certamente negado; mas mais fundamental parece a relação dos indivíduos, dos grupos e da humanidade com o tempo e, portanto, com a morte. É, portanto um fundamento muito bem "existencialista", entre aspas, mas essa relação com o tempo e com a morte está ela própria sujeita à evolução histórica das forças produtivas. Ela não é uma constante antropológica. A palavra central a propósito do tempo nessas páginas de Debord é a palavra "irreversível".

No momento em que os primeiros indivíduos e grupos começaram a sair da ciclicidade pura, eles descobriram ter uma única vida para poder brincar face à morte e ao tempo irreversível. Mas a questão se, como, e, sobretudo, quem pode jogar esse jogo é uma questão histórica com um fundamento bem "material".

Enquanto que durante muito tempo não havia senão pequenas minorias que tinham acesso a essa verdadeira humanidade — em relação à qual a existência dos outros, destinada a ser engolida pela natureza cíclica, permanece quase animalesca — foi justamente a revolução na base da sociedade operada pelo capitalismo que generalizou essa possibilidade. É a tarefa da revolução social tornar efetiva essa possibilidade. 

O que Debord chama de seus desejos, ele não formula nos termos de uma sociedade "justa", sem exploração nem miséria, etc., mas enquanto acesso à vida histórica. A construção das situações, as paixões, a revolução da vida cotidiana são maneiras de chegar, na vida de todos os dias, à vida histórica: e isso quer dizer uma vida única, digna de ser lembrada um dia. E é exatamente o que o espetáculo nega e não permite mais nem mesmo a minorias.

Eu não vou aqui resumir as teorias de Arendt, mas somente lembrar a distinção fundamental que ela estabelece em Condição do homem moderno entre o trabalho, o fazer e a ação, o que ela reencontra na base da vida grega. A função da polis era precisamente tornar possível essa vida no quadro do tempo irreversível do qual fala Debord: "A polis devia multiplicar as ocasiões de adquirir a 'glória imortal', ou seja, multiplicar para cada um as chances de se distinguir, de fazer ver na palavra e na ação que ele estava em sua individualidade única. 

Uma das razões, senão a principal, do incrível florescimento de talento e gênio em Atenas, e também do rápido declínio, não muito menos surpreendente, da Cidade, é precisamente que do início ao fim ela teve por objetivo fazer do extraordinário um fenômeno ordinário da vida" (p. 256). Debord, ele também, atribui esse caráter à polis, e ele encara o retorno ampliado dessa condição como o resultado da luta de classes moderna: "Vamos rever, diz ele, uma Atenas ou uma Florença da qual ninguém será banido, estendida até as extremidades do mundo; e que, tendo derrotado todos os seus inimigos, poderá enfim se entregar com alegria às verdadeiras divisões e aos afrontamentos sem fim da vida histórica" (p. 1473).

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domingo, 22 de agosto de 2010

Os jovens tem que se conscientizar politicamente!

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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Agora eu realmente sei o que terrorismo significa

A perspectiva do morador de Exarchia que testemunhou e filmou o assassinato pela polícia de Alexis Grigoropolous em Atenas, Dezembro de 2008, e os seus sentimentos logo antes do julgamento.


Eu lembro que eu dizia pra mim mesmo, alguns anos atrás, que eu vivia numa zona militarizada, com toda a polícia em volta de Exarchia. Agora, eu digo que vivo numa zona de guerra. O que aconteceu em Dezembro, eu nunca acreditei que pudesse acontecer. Para mim, sempre houve um limite, uma linha final, e quando a polícia passou dele, houve uma mudança qualitativa. Tudo mudou. Todo mundo entendeu que havia um certo horizonte para a situação e além dele tudo era diferente. Nós passamos desse horizonte. Não é mais um conflito, é uma guerra.

Por um mês após o assassinato eu senti ódio, mas também um silêncio inacreditável. Era a primeira vez em dez anos que Exarchia estava silenciosa, um silêncio de morte. Era muito desconcertante. Agora eu tive tempo de pensar sobre tudo, mas naquele comecinho eu estava completamente exausto de falar sobre o assunto, todas as perguntas. Eu coloquei o meu vídeo no Indymedia e de lá as estações de TV o pegaram. Logo, jornalistas estavam ligando pra mim constantemente e eu estava vendo meu vídeo em todo lugar. Pelos primeiros meses eu estava num estado muito estranho. Eu nunca estava calmo. Eu fiquei em estado de choque por um mês. Agora eu me sinto melhor, mas toda vez que eu ouço um certo som...a grana de efeito que a polícia usou poucos minute antes deles matarem Alexis acionou um alarme de segurança em uma das lojas, ou talvez um carro. Então durante o vídeo inteiro você ouve um alarme de segurança tocando no fundo. Eu continuei a ver o meu vídeo em todo lugar, ele estava na TV e tudo o mais, e quando eu ouço esse alarme específico no outro lado da rua, o sentimento do tiroteio volta para mim. Eu realmente quero pedir a eles pra mudaram o som do alarme porque todas as memórias voltam pra mim. É inacreditável que um som traga de volta esses sentimentos que tomaram um mês para que eu me recuperasse deles.

O assassinato de Alexis foi a gota d'água. Não há mais tolerância para a polícia. A morte foi tão absurda, tão além dos limites. As pessoas reagiram e continuam a reagir. Elas estão fortalecidas pela ira que foi expressa logo após o assassinato. Haviam muitos outros problemas também, além da brutalidade policial. Esses problemas continuam, mas a pessoas não os toleram mais, não mais.

Eu não sei se Exarchia é mais autônoma agora do que antes. As pessoas, aqueles que são ativos, eles tentam. E eu, eu sempre me senti autônomo, mas agora eu realmente sei “terrorismo” significa. Do dia que eles mataram Alexis até o dia em que o grupo guerrilheiro atacou a polícia, ela não apareceu na esquina onde Alexis foi morto. Mas quando o Luta Revolucionária fez esse ataque, a primeira coisa que a polícia fez foi ocupar o lugar onde Alexis levou o tiro, e eles ficaram lá por 24 horas. E era a tropa de choque, com capacete, armas e tudo o mais. E quando eles vieram no meio dia, eu estava na janela e um deles olhou pra mim. Eu acho que porque durante esse tempo todo o telefone estava tocando, jornalistas estavam ligando e tentando descobrir de onde tinha surgido o vídeo. Quando um dos policiais olhou pra janela, eu gesticulei tipo, “o que você quer?” E ele deu um soco no cara do lado e apontou para mim, e eu ficou completamente aterrorizado pelo modo como eles estavam me olhando. Essa noite, eu ouvi alguns vizinho s falando, e depois chorando, e os policiais estavam parados exatamente no lugar ondeAlexis morreu. Eu saí para ver o que estava acontecendo, e porque eu não conseguira ver eu olhei discretamente pela minha janela e um dos policiais me viu. Eu fiquei aterrorizado então eu voltei de volta pra dentro mas o policial veio para debaixo da minha janela e fez contato visual comigo. Eu achei que eles iam invadir meu apartamento. Então eu fui para a casa do vizinho. Eu estava aterrorizado.

É a isso que eu chamo “terrorismo”. É impossível apenas ficar na minha janela olhando para a rua. Outra vez, em fevereiro eu acho, havia um carro queimando na minha rua, e a polícia veio de novo e ficou olhando para mim, e eu fiquei assustado e voltei pra minha casa. O policial gritou para mim “Então você está se escondendo, é?”, e aí eu percebi, “Que merda está acontecendo, porque eu me escondo?”, então eu fui de volta para a janela e comecei a tirar fotos. E a polícia começou a tirar fotos de mim.
Dá pra ver tudo dessa janela. É por isso que eu estou pensando em colocar uma câmera aqui, para os policiais e também para esses jovens que fazem muitas coisas sem pensar porque eles fazem. Porque em todo lugar há algumas pessoas que podem fazer um pequeno erro e todo o resto tem que lidar com as consequências. Alguns dizem que isso é Exarchia, a única coisa a fazer é queimar as lojas. Mas essa não é a verdade. Há muitas reações possíveis além do dogma de queimar e quebrar.

Então estarei no julgamento do policial que matou Alexis. Eu estava preocupado sobre como eu me sentiria em relação ao advogado de defesa, porque ele está defendendo uma pessoa muito má. Então eu comecei a me preocupar sobre o resultado do julgamento. Se esse policial acabar com apenas dois ou três anos de prisão, eu não sei como eu reagiria. Como você reage a uma decisão de um julgamento como esse? Muitas coisas aterradoras estão acontecendo, nós ouvimos sobre elas e as vemos nas notícias, mas é muito diferente quando você as vê com os seus próprios olhos. Não são apenas palavras, são realidade para você, não há dúvida, não há distância do fato. O assassinato é uma verdade tão absoluta, é como se você roubasse alguma coisa de mim, na minha frente, e então me dissesse que essa coisa nunca existiu. Não é algo que você apenas ouviu a respeito de algum outro lugar. E eu temo muito que se eles determinarem que o policial não é culpado, talvez a minha reação vai me jogar na cadeia. Eu penso sobre isso o tempo todo enquanto me preparo para testemunhar.

Traduzido por L.M. em Maio de 2010. Fonte: Libcom

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Org. Rev. e Comprometimento Individual

(...) Aqui são oferecidas 20 regras a ser seguidas pelo indíviduo ao lidar com o meio "pró-revolucionário":

1. Você não tem que “entrar” em nada – coloque os seus próprios termos de compromisso com o grupo.

2 .Só dê aquilo que você se sente confortável dando.

3. Nunca tolere pressão moral para participar em "ações”. Em resposta aos ativistas “holy joes” diga “não deveríamos fazer nada” para tentar criar campos diferentes.

4. A revolução não depende da sua conformidade à uma ou outra forma de consciência, então não se sinta preso à ortodoxias ou as exija dos outros.

5. Todos os grupos geralmente sobrevivem do trabalho de um ou dois indivíduos, então se você realmente contribui de alguma forma você está fazendo mais do que a maioria – e sempre fale como você mesmo e não como o grupo.

6. É possível ser pró-revolucionário e ter uma vida normal; não fuja para Brighton; não adote uma personalidade extremista; não confunda a cultura pop/drogas/de escape com revolução.

7. Se tentar “viver” a sua política você vai se separar ainda mais de outras pessoas, limitando dessa forma as experiências e perspectivas que você compartilha.

8. Tente se comprometer ao longo termo mas com um baixo nível de intensidade, entenda que o entusiasmo inicial vai acabar à medida que tudo que você faz cai em ouvidos surdos e termina em fracasso.

9. Lembre que o papel dos pró-revolucionários não é fazer as revoluções mas criticar aqueles que se proclamam revolucionários – em outras palavras: empurrar aqueles que são politizados rumo a uma consciência pró-revolucionária.

10. Só porque no futuro você vai se desiludir e esgotar-se, e pensar que pró-revolucionários são masturbadores intelectuais, não prossegue que a revolução é impossível.

11. Lembre que a revolução não canoniza os revolucionários, ela os abole.

12. Comece criticando todas as camarilhas. Se você está numa manifestação e, olhando em volta, percebe que todo mundo se veste da mesma forma e tem a mesma idade que você, há algo errado – espere que hajam agendas secretas e “feudos”.

13. Grupos só devem existir para atingir um propósito declarado a curto prazo. Todos os grupos que existiram por mais de 5 anos já sobreviveram à sua utilidade.

14. Não se deixe levar por campanhas de questão única a não ser que você especificamente queira uma reforma em particular; a revolução não vai sair de direitos animais, legalização da maconha, paz, etc.

15. Há uma tendência cíclica em grupos para “construir” grandes eventos anti-capitalistas – resista a isso, avalie porque grupos gostam tanto de um espetáculo, então pense no dia após o Primeiro de Maio.

16. Quando alguém faz uma declaração, pense pra você mesmo: quem está falando, o que eles realmente querem dizer – o que eles querem de mim?

17. Muitos pró-revolucionários tem empregos razoáveis, levam origem comfortáveis e depois mentem sobre isso/adotam sotaques de “proletários”, etc. Eles tem uma rede de segurança, e você? Não entregue demais.

18. Não procure pureza ideológica, isso não existe. Se lhe apetece, se você tem alguma razão, então participe o quanto você quiser de qualquer grupo político reformista ou instituição, enquanto você não taxá-lo de alguma importância “revolucionária”. A sua consciência pró-rev. deve se manter separada da atividade política e pessoal.

19. Não há necessidade de sair procurando “acontecimentos” – eles te encontrarão. Desse modo a sua efetividade vai ser multiplicada porque você estará pronto e agirá de um certo modo com o qual as pessoas em volta poderão aprender, por exemplo, perspectivas de solidariedade, de “nós contra eles”, de “tudo ou nada”, etc.

20. Se te ajudar, pense assim: você é um agente do futuro; você deve viver uma vida normal nas circunstâncias em que se encontra. Talvez você nunca fale a ninguém sobre tudo o que pensa mas isso não importa, porque quando a situação surgir você vai estar no lugar para dizer tudo que é apropriado porque esse é precisamente o seu papel (e o de mais ninguém). O tempo todo você está se preparando para fazer a sua contribuição, e um dia você fará algo, você não tem ideia do que é, mas será importante.

Monsieur Dupont, in "The Wind-Down of the Clockwork Lips' ", 2003.
Traduzido por L.M. em Maio de 2010.

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um empregado do banco em que morreram os três funcionários declara:

As mortes trágicas de hoje em Atenas deixam pouco espaço para comentários – estamos todos muito chocados e profundamente entristecidos pelos acontecimentos. Para aqueles que especulam que as mortes podem ter sido causadas propositalmente por anarquistas, nós podemos dizer apenas o seguinte: não tomamos as ruas, nem arriscamos nossa liberdade e nossas vidas confrontando a polícia grega com o objetivo de matar outras pessoas. Anarquistas não são assassinos, e nenhuma lavagem cerebral por parte do Primeiro Ministro grego Papandreou, da mídia nacional e internacional deve convencer ninguém do contrário.

Com isso dito, e com os acontecementos ainda se desenvolvendo freneticamente, nós queremos publicar uma tradução “bruta” de uma declaração de um empregado do Banco Marfim – o banco cuja filial foi incendiada em Atenas hoje, onde os três empregados tiveram uma morte trágica.

Leia a carta, traduza-a, espalhe-a nas suas redes; contra-informação de base tem um papel crucial num momento em que o Estado grego e a mídia corporativa estão lançando uma ofensiva contra o movimento anarquista aqui na Grécia.

Eu sinto uma obrigação em relação aos meus colegas que morreram tão injustamente hoje para falar publicamento e dizer algumas verdades objetivos. Estou mandando essa messagem para todos os meios de comunicação. Qualquer um que ainda tenha alguma consciência deve publicá-la. O resto pode continuar a jogar o jogo do governo.
Os bombeiros nunca deram uma licença de funcionamento para o prédio em questão. O acordo para que ele funcionasse foi feito debaixo da mesa, como praticamente acontece com todos os negócios e companhias na Grécia.
O prédio em questão não tem nenhum mecanismo de segurança contra incêndio, nem planejados nem instalados – quer dizer, ele não tem chuveiros de teto, saídas de emergência ou mangueiras para incêndio. Existem apenas alguns extintores de fogo portáteis que, evidentemente, não podem ajudar a lidar com um fogo intenso numa construção que foi feita com padrões de seguranças ultrapassados à muito.
Nenhuma filial do banco Marfin deu treinamento adequado a qualquer empregado sobre como lidar com fogo, nem mesmo sobre como usar os poucos extintores. A gerência também usa os preços altos de tal treinamento como um pretexto e não tomarão sequer as medidas mais básicas para proteger seus funcionários.
Nunca houve um único exercício de evacuação em qualquer prédio para funcionários, nem sessões de treinamento por parte dos bombeiros, dando instruções para situações como essa. As únicas sessões de treinamento que houveram no Banco Marfim diziam respeito a situações de ação terrorista e estas eram planjeadas especificamente para uma fuga segura dos “cabeças” do banco em tais situações.
O prédio em questão não tinha nenhuma acomodação especial para o caso de incêndio, apesar da sua construção ser muito frágil em tais circunstâncias e dela estar cheia de materiais do chão ao teto. Materiais que são muito inflamáveis, tais como papel, plástico, fios, móveis. O prédio é objetivamente inadequado para uso como um banco devido a sua estrutura.
Nenhum membro da segurança tem qualquer conhecimento de primeiros socorros ou exstinção de incêndio, apesar deles serem praticamente encarregados da segurança do prédio. Os funcionários to banco tem que se tornar bombeiros ou seguranças de acordo com o apetite do Sr. Vgenopoulos [dono do Banco Marfin].
A gerência do banco proibiu estritiamente os empregados de sair hoje, ainda que eles tenham pedido persistentemente para fazê-lo cedo nessa manhã – enquanto eles também forçaram os funcionários a trancar as portas e repetidamente confirmaram que ela tinha permanecido trancada ao longo do dia, por meio do telefone. Eles até bloquearam o acesso à internet no prédio para prevenir os empregados de se comunicarem com o mundo exterior.
Por vários dias tem havido uma verdadeira terrorirazação dos empregados do banco sobre a mobilização desses dias, com a “oferta” verbal: ou você trabalha, ou você é demitido.
Os dois policiais à paisana que são mandados à filial em questão para prevenção de roubos não apareceram hoje, apesar da gerência ter prometido verbalmento aos empregados que eles estariam lá.
Finalmente, senhores, façam a sua auto-crítica e parem de andar por aí fingindo estar chocados. Vocês são responsáveis pelo que aconteceram hoje em qualquer estado de direito (como os que vocês gostam de usar periodicamente como exemplos principais nos seus shows televisivos) vocês já teriam sido presos pelas ações acima. Meus colegas perderam suas vidas hoje por cukpa da málicia: a maĺicia do Banco Marfim e do Sr.Vgenopoulos pessoalmente, que declarou explicitamente que quem não viesse ao trabalho hoje [5 de maio, uma dia de greve geral!] não deveria se importar em aparecer no trabalho amanhã.

Fonte: Occupied London

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Sobre a greve geral na Grécia e a morte de três funcionários

Declaração da ocupação anarquista de Skaramanga e Patision em Atenas.

Os assassinos “entram em luto” por suas vítimas

(Sobre a morte trágica de 3 pessoas hoje)

A enorme manifestação da greve que tomou lugar hoje, 5 de maio, se tornou em um escoamento social de raiva. Pelo menos 200.000 pessoas de todas as idades tomaram as ruas (empregados e desempregados, no setor privado ou público, locais ou imigrantes) tentando, ao longo de várias horas e em ondas consecutivas, cercar e ocupar o Parlamento. As forças da repressão apareceram com força total, para cumprir seu papel habitual – o de proteger as autoridades políticas e financeiras. Os confrontos duraram várias horas e foram intensos. O sistema político e suas instituições alcançaram seu ponto mais baixo.

No entanto, no meio de tudo isso, um evento trágico que nenhuma palavra poderia descrever tomou lugar: 3 pessoas morreram devido à fumaça numa filial do Banco Marfim na Avenida Stadiou, que tinha sido incendiado.

O Estado e a escória jornalística, sem nenhum pudor em relação aos mortos e seus parentes, falaram desde o primeiro momento sobre alguns “assassinos-mascarados jovens”, tentando tomar vantagem do acontecido, de modo a acalmar a onda de fúria social que havia irrompido e recuperar sua autoridade que havia sido despedaçada; para impor novamente uma ocupação policial das ruas, extinguir as fontes de resistência social e desobediência contra o terrorismo de estado e a bárbarie capitalista. Por essa razão, durante as últimas horas, as forças polícias têm marchado pelo centro de Atenas, realizado centenas de detenções e também invadiram – com tiros e granadas de efeito moral – a ocupação anarquista “espaço de ação multiforme unificada” na rua Zaimi e o “refúgio imigrante” na Rua Tsadamadou, causando grandes danos (ambos esses lugares estão no bairro Exarcheia de Atenas). Ao mesmo tempo, a ameaça de uma desocupação violenta pela polícia está pendendo sobre os outros espaços auto-organizados (ocupações e refúigios) depois do discurso do Primeiro Ministro que se referiu a incursões nos próximos dias para a prisão dos “assassinos”.

Os governantes, os oficiais do governo, os seus empregados políticos, seus porta-vozes da TV e os seus jornalistas alugados tentam dessa forma purificar o seu regime e criminalizar os anarquistas e toda voz de luta não autorizada. Como se houvesse sequer a mínima chance de que quem atacou o banco (seja lá quem for e supondo que a versão oficial se sustente) poderiam possivelmente saber que haviam pessoas lá dentro, e que eles iriam incendiá-lo sem se importar. Eles parecem confundir as pessoas em luta com eles mesmos: eles que sem nenhum hesitação entregam a sociedade inteiro à mais profunda pilhagem e escravidão, que ordenam seus pretorianos a atacar sem nenhum hesitação e a mirar e atirar para matar, eles que levaram três pessoas ao suicídio apenas na semana passada, devido à dívidas financeiras.

A verdade é que o real assassino, o verdadeiro instigador da morte trágica de hoje de 3 pessoas é o “senhor” Vgenopoulos, que se utilizou da chantagem costumeira de chefe (a ameaça da demissão) e forçou seus empregados a trabalhar nas filiais do seu banco durante um dia de greve – e mesmo numa filial como a da Avenida Stadiou, onde os manifestantes da greve passariam. Tal chantagem é familiar até demais para qualquer um que vivencie o terrorismo da escravidão assalariada cotidianamente. Estamos esperando para ver que desculpas Vgenopoulos irá arrumar para os parentes das vítimos e para a sociedade como um todo – esse ultra-capitalista agora sugerido por alguns centros de poder como o próximo primeiro-ministro num futuro “governo de união nacional” que seguiria ao prevísivel e completo colapso do sistema político.

Se uma greve sem precedentes pode ser uma assassina...

Se uma manifestação sem precedentes, numa crise sem precedentes, pode ser uma assassina...

Se espaços sociais abertos que são vivos e públicos podem ser assassinos...

Se o Estado pode impor um toque de recolher e atacar manifestantes sob o pretexto de prender assassinos...

Se Vgneopoulos pode prender seus empregados dentro de um banco – quer dizer, um inimigo social e alvo primário para manifestantes...

...é porque a autoridade, esse assassino em série, quer abater no nascimento uma revolta que questiona a suposta solução de um ataque ainda mais duro contra a sociedade, de uma pilhagem ainda maior pelo capital,

...é porque o futuro da revolta não inclui os políticos e os patrões, nem os policiais e nem os meios de comunicação de massa.

...é porque por trás da tão propagandeada solução “única”, há uma solução que não fala de taxas de crescimento e desemprego mas, ao invés disso, fala de solidariedade, auto organização e relações humanas.

Quando perguntam quem são os assassinos da vida, da liberdade, da dignididade, os fermentos da autoridade e do capital, eles e seus agregados precisam apenas olhar para si mesmos. Hoje e todo dia.


TIREM AS MÃOS DOS ESPAÇOS SOCIAIS LIVRES

O ESTADO E OS CAPITALISTAS SÃO OS ASSASSINOS, TERRORISTAS E CRIMINOSOS

TODOS PARA AS RUAS

REVOLTA-TE!



da assembléia aberta na tarde de 5/5/2010

Fonte: http://www.occupiedlondon.org/blog/


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