quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Revolução dos Inválidos

Poesia, revolução, bandolim e pandeiro, o futuro… Por Otto João Leite


carybe2
Não existe fortuna ou ações na bolsa
Que me valham o prazer de escutar
Os doces acordes do bandolim
E o contrabaixo do violão
Este colosso que sustenta tudo
Numa seresta que ressoa
Ao toque do pandeiro como relógio
O relógio sincopado dos boêmios
E as vibrações doces do cantar
Do velho encanador
Cantando os sonhos da boemia
O pandeiro do velho da janela
O canto dos teus velhos seresteiros
O doce som do samba canção
O choro do cavaco inclemente
Sentado em uma mesa que eu mesmo fiz
Bebendo a cachaça doce de Minas
No bar em meio a meus camaradas
O quartel general dos boêmios
Amigos de coração
Camaradas de greves e combate
Hoje a greve é greve da arte
Dali sairá a nossa revolução
Tremam de medo, poderosos!
Faremos desta cidade o Soviete de Munique
O quartel virará um teatro
O cartório um botequim
Os carros cederão lugar
Às bicicletas e aos trilhos
E as ruas do centro se tornarão um grande boulevard
Renascerão as pedras do calçamento
Do meio do asfalto rachado
A Igreja virará um belo museu
E as novas Igrejas….
Fugirão seus pastores,
E seus salões virarão verdadeiras Assembléias!
Nossa Comuna governará
Todas as manhãs seu comitê central
Recitará poesias em um palanque
E a música, será o princípio de nossa constituição
carybe4
Ao invés de especialistas
Nomearemos amadores
As faculdades ensinarão coisas inúteis
Os muros serão derrubados, as cercas arrancadas
As paredes virarão murais
Títulos serão apenas nome de livros
Os homens comuns farão o incomum
Numa terra posta em comum!
Os seresteiros anônimos
Serão coroados heróis
As ruas terão nome de sambas
E vossos vereadores, estas velhas dores
Cairão no esquecimento
A estátua do velho coronel
Será um cagatório de pombos!
Pobre prefeitura
Eles não querem mais tocar para vocês
Seus burrocratas ficarão desempregados
O canal de TV irá à falência
As pessoas vão passar a noite nas ruas conversando
Os moto-boys vão aposentar suas motos
Virarão todos artistas
Farão arte nos restaurantes cheios de gente
O carnaval haverá de tomar as ruas
E o sambódromo ficará vazio
Os office-boys virarão sambistas
Os burocratas sindicais vão catar papel
Ou farão promoção pessoal
Ao cargo de palhaços
Do circo que abriremos
Onde um dia foi o palácio do governo
Com realejos tocando
E peças do Plínio Marcos encenando
As escolas não serão mais presídios
Suas grades serão arrancadas
A grade curricular será abolida
A nossa comuna há de reinar
Haverá esquetes de teatro
Sob cada uma de suas câmeras
E a câmara, aquele velho túmulo
Para ela será transferido o cemitério
E seus ilustres mandatários
Contemplados com cargos de coveiros
Tuas fábricas serão automatizadas
Teus gestores não gerirão mais nada
Limparemos o rio para nele pescar!
Teremos bailes e serestas todos os dias
Precisaremos inventar ocupações
Tempo que não será mais gasto
Mas ganho, de graça
Tempo para viver e amar
carybe3
Os orgasmos simples serão abolidos
Pois serão desnecessários
Estraga-prazeres
A vida será o gozo contínuo
Teus Partidos serão partidos em mil partes
Não queremos mais a parte, queremos o todo
A vida será gratuita
Tuas catracas serão peça de museu
Teus vales irão para o picador de papel
Teus números serão deletados
De tua riqueza, ficará a miséria
E a miséria que a alimentava, virará fartura!
Nossa moeda serão as canções
Entre numa loja e pague com um poema
Os relógios terão trinta horas
As noites serão mais longas
Para boemia, poder amar e sonhar
As semanas terão cinco dias inúteis
E apenas dois dias úteis
Teu capital será um capítulo passado
Teus capitães serão bustos enferrujados
Teu Estado, sofrerá uma mudança de estado
Do sólido para o gasoso
Mercadoria sem valor
Dinheiro que não vale nada
A festa dos desvalidos
O teatro dos Inválidos
Nossa comuna haverá de reinar
A poesia que há de se efetivar
A arte que há de se extinguir
Pois a vida irá se estetizar
A filosofia irá se realizar
A revolução que haverá de sair
Das paredes deste humilde bar
Das paredes deste sublime bar
carybe1

* Imagens de Carybé [Hector Julio Páride Bernabó, 1911-1997]

Fonte: Passa Palavra

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Uma Modesta Proposta - Johnatan Swift

Uma modesta proposta para prevenir que, na Irlanda, as crianças dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o país, e para as tornar benéficas para a República


É motivo de melancolia para aqueles que passeiam por esta grande cidade, ou que viajam pelo campo, verem nas ruas, nas estradas, e às portas das barracas, uma multidão de pedintes do sexo feminino, seguidas por três, quatro, ou seis crianças, todas em farrapos, a importunarem cada passante pedindo esmola.

Estas mães, não sendo capazes de trabalhar para angariar honestamente a vida, vêem-se forçadas a gastar todo o tempo que têm a andar por ali, a mendigar o sustento para os seus filhos desprotegidos. E estes, depois de crescerem, ou se tornam ladrões por falta de trabalho, ou abandonam o seu querido país natal para se irem alistar num exército inimigo, ou se vendem como emigrantes para os Barbados.

Penso que todos os Partidos Políticos estão de acordo que este número prodigioso de crianças – nos braços, às costas, ou aos calcanhares das mães, e freqüentemente dos pais – na atual e deplorável situação desta república, é uma lástima enorme e suplementar.

Portanto, quem quer que possa encontrar um método justo, barato e fácil para transformar estas crianças em membros saudáveis e úteis à comunidade, deverá não só merecer a aprovação do público, como ver ser-lhe erguida uma estátua como salvador da nação.

Porém, a minha intenção está muito longe de se confinar apenas a prover pelas crianças dos pedintes confessos. É de âmbito muito mais vasto, e deverá, no geral, incluir a totalidade do número de crianças de uma certa idade que nascem de pais, de fato, tão incapazes de as sustentar como os que mendigam a nossa caridade nas ruas.

No que me diz respeito, tendo dedicado os meus pensamentos a este importante assunto durante muitos anos, e tendo ponderadamente pesado as várias propostas de autores de outros projetos, achei-os sempre grosseiramente errados na computação.

Na verdade, uma criança acabada de sair da barriga da sua mãe pode ser sustentada pelo leite dela durante um ano solar, exigindo pouco mais de outro tipo de alimentação. No máximo, nunca acima da importância de 2 xelins que a mãe poderá decerto conseguir, além do valor dos farrapos, pela sua legal ocupação de mendicante.

É exatamente com um ano de idade que proponho prover por estas crianças, de tal modo que, em vez de serem uma carga para os pais, ou para a paróquia, ou em vez de virem a necessitar de comida e roupa pelo resto das suas vidas, pelo contrário, acabem a contribuir para a alimentação e, em parte, para o vestuário, de muitos milhares.

Existe igualmente uma outra grande vantagem na minha proposta, que irá prevenir os abortos voluntários, e aquelas horríveis práticas das mulheres que assassinam os filhos bastardos. Infelizmente, um costume demasiado freqüente entre nós, que suscita lágrimas e piedade no peito humano mais selvagem. E julgo que sacrificam os pobres bebês inocentes mais para evitar a despesa do que a vergonha.

Sendo o número de almas neste reino normalmente avaliado em um milhão e meio, calculo que entre estas devem existir cerca de duzentos mil casais cujas mulheres são férteis. Deste número subtraio trinta mil casais com meios para manter os seus próprios filhos embora, dado as atuais misérias da nação, eu julgue que não possam existir tantos. Todavia, assegurado isto, restarão cento e setenta mil parideiras. De novo subtraio cinqüenta mil por conta das mulheres que abortam, ou cujos filhos morrem por acidente, ou doença, durante o primeiro ano. Restam apenas cento e vinte mil filhos de pais pobres a nascer por ano.

Portanto, a questão é saber como criar e sustentar este número, o que, como já disse, na atual situação das coisas, é totalmente impossível por qualquer dos métodos até agora propostos. Não podemos empregá-los nem em fábricas, nem na agricultura. Também não construímos casas (quero dizer, no país) nem cultivamos a terra: muito dificilmente poderão ganhar a vida a roubar antes de chegarem aos seis anos de idade – a não ser como cúmplices –, embora deva confessar que aprendem os rudimentos do ofício muito mais cedo. Porém, é um período durante o qual só podem ser considerados como aprendizes, tal como me informou um cavalheiro importante do condado de Cavan, que me garantiu nunca ter conhecido mais do que um ou dois casos abaixo da idade dos seis anos, mesmo numa parte do reino tão famosa pela mais rápida proficiência nessa arte.

Foi-me garantido pelos nossos comerciantes que um rapaz, ou uma garota, antes dos doze anos de idade não é mercadoria vendável. E, mesmo quando chegam a essa idade, não poderão vir a render no mercado mais do que três libras, ou três libras e meia coroa no máximo. Uma verba que não chega para dar compensação nem aos pais, nem ao reino, dado as despesas com a alimentação e com os farrapos que custam, pelo menos, quatro vezes aquele valor.

Passarei agora, humildemente, a apresentar os meus próprios pensamentos os quais, segundo espero, não serão susceptíveis de merecer qualquer objeção.

Foi-me garantido por um muito sábio americano do meu conhecimento, em Londres, que uma criança jovem e saudável, bem alimentada, com um ano de idade, é do mais delicioso, o alimento mais nutriente e completo – seja estufada, grelhada, assada, ou cozida. E não tenho qualquer dúvida de que poderá igualmente ser servida de fricassé ou num «ragout».

Portanto ofereço humildemente à consideração pública que, das cento e vinte mil crianças já computadas, se possam reservar vinte mil para criação. Desta parte, apenas um quarto deverá ser de machos – o que já é mais do que permitimos às ovelhas, ao gado bovino e ao suíno. A minha justificação é que estas crianças raramente são fruto do casamento, uma circunstância não muito considerada pelos nossos selvagens, pelo que um macho será suficiente para servir quatro fêmeas.

Deste modo, as restantes cem mil, com um ano de idade, poderiam ser oferecidas para serem vendidas às pessoas de qualidade e fortuna reino afora – advertindo sempre a mãe para que as deixe mamar à vontade no último mês a fim de as tornar rechonchudas e gordas, dignas de uma boa mesa.

Uma criança dará duas doses numa festa de amigos; e se for a família a jantar sozinha, os quartos da frente, ou de trás, proporcionarão um prato razoável. Se temperada com um pouco de sal ou pimenta e cozida, estará ainda bem conservada no quarto dia, especialmente no Inverno.

Fiz as contas e, em média, um recém-nascido pesará 12 libras e, se aceitavelmente tratado, durante um ano solar aumentará para 28 libras.

Concedo que esta comida venha a ser de certo modo cara e, portanto, estará muito adequada aos senhorios – e dado que estes já devoraram a maior parte dos pais, poderão ter direito de preferência sobre os filhos.

A carne dos bebês estará dentro do prazo o ano todo, mas será mais abundante um pouco antes, e depois, de março. Pois foi-nos dito por um autor sério, um eminente médico francês que, sendo o peixe uma dieta prolífica, nos países católicos romanos há mais crianças nascidas cerca de nove meses depois da Quaresma do que em qualquer outro período. Assim sendo, calculo que um ano depois da Quaresma os mercados estejam mais abastecidos do que o normal, pois o número de crianças neste reino é de, pelo menos, três papistas para uma protestante – o que oferecerá ainda a vantagem colateral de reduzir o número de papistas entre nós.

Também já calculei as despesas para alimentar cada filho dos pedintes (em cuja lista incluo todos os que vivem em barracas, trabalhadores rurais, e quatro-quintos dos lavradores) que será de cerca de dois xelins per annum, trapos incluídos. E creio que não incomodará nenhum cavalheiro pagar dez xelins por uma boa carcaça de criança gorda, a qual, como já disse, dará quatro pratos de carne, excelente e nutritiva, quando tiver apenas um amigo particular ou a sua própria família a jantar consigo.

Assim o proprietário rural aprenderá a ser um bom senhorio, aumentando a sua popularidade entre os seus rendeiros; a mãe terá uns oito xelins de lucro líquido e estará apta a trabalhar até produzir outra criança.

Os que são mais frugais (como devo confessar que o exigem os tempos) podem esfolar a carcaça, cuja pele, artificialmente tratada, dará luvas admiráveis para as senhoras, e botas de verão para os cavalheiros elegantes.

Quanto à nossa cidade de Dublim, podem destinar-se a este propósito as secções mais convenientes, e os talhantes podem ficar descansados que não terão falta de clientela. Embora eu antes recomende que se comprem as crianças vivas, e sejam temperadas ainda quentes da faca, como o fazemos com os porcos.

Uma pessoa de muito mérito, um verdadeiro amante deste país cujas virtudes grandemente estimo, andava ultimamente muito agradado a discursar sobre este assunto, preocupado em acrescentar um refinamento ao meu esquema.

Disse-me que, ultimamente, muitos cavalheiros do seu reino andavam preocupados com a destruição dos seus veados, pelo que concebeu que a falta de proteínas poderia vir a ser suprida pelos corpos de jovens rapazes e garotas, não excedendo os catorze anos de idade e nunca abaixo dos doze. Havendo um grande número destes, de ambos os sexos, em todos os países, atualmente prestes a morrer de fome por falta de trabalho e serviços, poderiam ser dispensados pelos respectivos pais, se vivos, ou pelos parentes mais próximos.

Mas, com a devida deferência para com um tão excelente amigo e tão meritório patriota, não posso estar completamente de acordo com o ponto de vista dele. Porque, no que diz respeito aos machos, o americano meu conhecido assegurou-me, por experiências freqüentes que, devido ao exercício continuado, a carne deles era normalmente dura e magra como a dos nossos jovens, e o seu gosto desagradável; e engordá-los não compensaria a despesa. Penso que, no que respeita às fêmeas, com humilde submissão, seria uma perda para o público, porque dentro em pouco se viriam a tornar elas próprias parideiras. Além disso, não é improvável que algumas pessoas escrupulosas pudessem estar aptas a censurar uma tal prática (embora, na verdade, muito injustamente), como tocando um pouco as raias da crueldade, o que, confesso, tem sido sempre a minha mais forte objeção contra qualquer projeto, por mais bem intencionado que seja.

Mas a fim de justificar o meu amigo, confessou ele que este expediente lhe foi posto na cabeça pelo famoso Psalmanazar, um nativo da Ilha Formosa, que daí veio para Londres há cerca de vinte anos e que, numa conversa, disse ao meu amigo que, no país dele, quando acontecia que qualquer jovem pessoa fosse condenada à morte, o carrasco vendia a carcaça a indivíduos de qualidade como mercadoria de luxo. E, no seu tempo, o corpo de uma gorda garota de quinze anos, que tinha sido crucificada por ter tentado envenenar o imperador, fora vendido do cadafalso, em partes, ao primeiro-ministro do estado de sua majestade imperial, e a outros grandes mandarins da corte, por quatrocentas coroas. Nem posso evidentemente negar que o reino não ficaria pior se o mesmo tratamento fosse dado a várias jovens garotas gordas desta cidade, as quais nem uma simples moeda de prata têm por fortuna, mas que só saem à rua de liteira, e aparecem nos teatros e assembléias em finas roupas estrangeiras pelas quais nunca irão pagar.

Algumas pessoas de espírito atormentado ficam muito preocupadas com o vasto número de indivíduos pobres que são velhos, doentes, ou mutilados. E desejei dedicar os meus pensamentos ao caminho que pode ser tomado para aliviar a nação de tão grave encargo. Mas não tive a menor dificuldade quanto a esse assunto, porque é bem sabido que cada dia estão a morrer e apodrecer com o frio e a fome, e a porcaria e as doenças, tão depressa quanto se poderia razoavelmente esperar.

Quanto aos jovens trabalhadores rurais estão numa situação igualmente esperançosa. Não conseguem arranjar trabalho e, conseqüentemente, definham por falta de alimento com tal rapidez que, se em qualquer momento fossem acidentalmente contratados para tarefas comuns, não teriam forças para as executar. Assim, felizmente, o país e eles próprios ficam desembaraçados dos males por vir.

A minha digressão já vai longa, por isso regressarei ao assunto. Penso que as vantagens da proposta que faço são óbvias e muitas, bem como da maior importância.

Porque, em primeiro lugar, como já constatei, iria diminuir grandemente o número de papistas, com os quais estamos anualmente infestados, sendo estes os principais procriadores da nação bem como os nossos mais perigosos inimigos. E os que ficam em casa com o propósito de entregar o nosso reino ao Inimigo, esperando obter os seus lucros com a ausência de tantos bons protestantes, que escolheram antes abandonar o seu país do que ficar por cá e, contra a sua consciência, pagar impostos, e sustentar um curador episcopal.

Segundo, os rendeiros mais pobres terão algo de seu bem valioso que, por lei, pode ser destinado a aliviar e pagar a renda aos seus senhorios, já que o gado e os cereais lhes terão sido já tomados, e ser o dinheiro uma coisa desconhecida.

Terceiro, enquanto a manutenção de cem mil crianças, com dois anos e mais velhas, não pode ser computada a menos de dez xelins por cabeça per annum, os recursos da nação seriam, por esta via, aumentados em cinqüenta mil libras per annum, além do proveito de um novo prato poder ser apresentado às mesas de todos os cavalheiros de fortuna do reino com algum refinamento de gosto.

E o dinheiro circulará entre nós, sendo os bens inteiramente de nossa produção e manufatura.

Quarto, os procriadores constantes, além do ganho de oito xelins esterlinos per annum pela venda de cada filho, ficarão livres do fardo de ter que os sustentar além do primeiro ano.

Quinto, este alimento iria igualmente trazer grande comércio às tabernas. Aí, os taberneiros serão seguramente tão previdentes quanto a procurar as melhores receitas para temperar a carne na perfeição e, conseqüentemente, ver as suas casas freqüentadas por todos os cavalheiros finos, que se avaliam justamente a si próprios quanto ao seu conhecimento em boa comida: e um cozinheiro habilidoso, que sabe como dar prazer aos seus convidados, arranjaria maneira de a tornar tão cara quanto lhe apetecesse.

Sexto, isto seria um grande incentivo ao casamento, que todas as nações sábias pretendem encorajar seja com recompensas, seja obrigando-o com leis e penalidades.

Aumentaria o cuidado e ternura das mães para com os seus filhos, pois ficariam seguras de terem arranjado um emprego para toda a vida para os pobres bebês e, de certa forma, serem providas pelo público para o seu ganho anual, em vez de terem despesas.

Veríamos uma emulação honesta entre as mulheres casadas, sobre qual delas poderia produzir a criança mais gorda para o mercado.

Os homens ficariam a gostar tanto das suas mulheres durante o tempo da gravidez como gostam agora das suas éguas prenhas, das vacas com crias, das porcas prontas a parir – nem se proporiam bater-lhes ou dar-lhes pontapés (como é prática tão freqüente) com medo de um aborto.

Muitas outras vantagens poderiam ser enumeradas. Por exemplo, a adição de cerca de mil carcaças à nossa exportação de carne salgada; a propagação da carne de porco; e a melhoria da arte de fazer bom fiambre – tão requisitado entre nós e demasiado freqüente nas nossas mesas – a provocar a destruição de porcos os quais, de modo algum são comparáveis em gosto, ou magnificência, a uma criança de um ano, bem alimentada e gorda que, assada inteira, faria bela figura numa festa do presidente da câmara, ou em qualquer entretenimento público. Mas esta e muitas outras omito, sendo um adepto da brevidade.

* * * * *

Apesar de tudo, não estou assim tão fortemente agarrado à minha opinião que rejeite qualquer oferta feita por homens sábios, que posa ser considerada igualmente inocente, barata, fácil e eficaz.

Mas, antes que qualquer coisa desse tipo seja aventada em contradição à minha proposta e oferecendo melhor, desejo ao autor ou autores que façam o favor de considerarem atentamente dois pontos:

Primeiro, dado o estado das coisas neste momento, como serão capazes de encontrar comida e roupa para cem mil bocas e membros inúteis.

E, segundo, havendo um milhão redondo de criaturas com figura humana por todo este reino, cuja subsistência total posta em armazém comum às deixaria com uma dívida de dois milhões de libras esterlinas – adicionando os que são pedintes por profissão ao volume dos lavradores, aos habitantes de barracas e trabalhadores rurais, com as mulheres e crianças que são pedintes de fato: desejo a esses políticos que não gostam do meu projeto, e podem talvez ser tão ousados quanto a tentar uma resposta, que perguntem primeiro aos pais desses mortais se, neste momento, não achariam ter sido uma felicidade enorme terem sido vendidos como alimento com um ano de idade da maneira que proponho, e por essa via ter evitado uma cena perpétua de desgraças como têm suportado com a opressão dos senhorios, a impossibilidade de pagar a renda, estarem sem dinheiro ou negócio, terem a falta de sustento comum, sem casa nem roupas para os cobrir das inclemências do tempo, e o mais inevitável prospecto de acarretarem as mesmas misérias ou maiores sobre as suas crianças para sempre.

Professo, na sinceridade do meu coração, que não tenho o menor interesse pessoal em tentar promover este trabalho necessário, não possuindo outro motivo além do bem publico do meu país e, pelo avanço do nosso comércio, de prover pelas crianças, aliviar os pobres, e dar algum prazer aos ricos. Não tenho crianças com as quais possa conseguir um único tostão, pois o meu filho mais novo tem nove anos e a minha mulher está além da idade de procriar.

Fonte: Deriva

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terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estórias pra Boi Acordar [1]



Havia uma curiosa civilização que vivia dentro de um prédio escuro, completamente fechado, que se mantinha parcamente iluminado por meio de um grande número de lâmpadas a óleo.

Ocorria nessa sociedade que alguns ali dentro, por razões de divino direito ou descendência, não era muito claro, controlavam como era feito e como se distribuía o óleo. Esses indivíduos acreditavam ser um direito seu cobrar vários impostos por esse indispensável produto e pelas ferramentas necessárias a seu uso e assim todos eram de algum forma dependentes deles.

Aconteceu um dia, porém, de coincidir um aumento nos impostos com um período da mais prolongada e sufocante escuridão. Uma enorme rebelião, a maior que essa sociedade havia presenciado, estourou - e com ela uma guerra civil intensa.

Os rebelados tinham em comum o fato de detestarem a escuridão e aqueles que tomavam proveito dela, mas divergiam quanto aos métodos e objetivos de sua revolta.

Delimitavam-se dentro deles dois campos principais: os moderados, que era majoritária e defendia uma distribuição justa e igualitária do óleo, alguns chegando até a proclamar a gratuidade de um serviço tão importante e necessário para todos no prédio.

E haviam também os radicais, ala minoritária mas decidida e consequente, que defendia que um prédio fechado não servia à habitação humana, havendo ali dentro grande risco de acidentes trágicos, fazendo até mal a saúde e gerando uma série de vícios destrutivos na espécie. Estes defendiam a demolição dos muros e a saída de todos daquele lugar, antes que ele desabasse em cima deles.

Enquanto a guerra civil recrudescia, a ala moderada ia perdendo influência, pois os moderados pouca disposição tinham para lidar com a violência da revolta da plebe. E enquanto a guerra se arrastava, mais e mais se juntavam para discutir as possibilidades da vida fora dos muros do prédio.

Mas algo inesperado ocorreu. Numa batalha particularmente violenta, abriu-se um buraco no teto, iluminando a área em questão com a luz do sol. Estava achada a solução! Esquecendo da guerra e de todo o resto, os cidadãos que viviam na escuridão se lançaram a abrir mais buracos na parede, buscando obter aquela luz abundante e gratuita. Para atender a tal demanda, apareceram aqueles especializados na construção de janelas, e que por mérito e habilidade na construção de janelas passaram a ser a nova elite dominante do local.

A alegria dos rebelados e até mesmo dos definitivamente derrotados defensores do óleo diante de tal prosperidade luminosa foi tanta, a festa tão duradoura e ruidosa, que só uns poucos perceberam a rápida e violenta liquidação dos radicais, outrora tão populares. E logo se reestabeleceu a normalidade...

L.M.
(Continua!)

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Peso do Mundo

vivendo sob montanhas de lixo
e cadáveres mal conservados
é impossível respirar!
muitos de nós, sentindo-se sufocados
empregam todo seu esforço
em se livrar do fardo
antes que seja tarde...

outros de nós, no entanto,
aqueles que sentam em cima do fardo,
embora igualmente asfixiados
exortam-nos à disciplina e a paciência:
"o ar que virá será tanto
e tão bom e tão agradável
que valerá a pena
Deus e o mundo recompensam
a persistência"

vários, por razões várias
concordam:
"respiraremos depois!"

estes
só não morrem
por que nunca realmente
estiveram vivos

aos que restam de nós,
aumenta o peso
e diminuem os braços
a carregá-lo

mesmo assim,
continuamos nos esforçando
para derrubar o fardo

afinal,
que opção temos?

respirar ou não
não é realmente uma escolha
e a morte,
não é muito diferente
da nossa vida

viver,
não é um projeto a longo prazo!
ou se está vivo,
ou morto
ou resistimos,
ou o peso nos esmaga,
ou é agora
ou nunca!

isso
nós, que sentimos o peso do mundo,
já compreendemos

Goiânia, 10 de Setembro de 2009.

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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os Dias da Comuna

Bertolt Brecht

Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram

Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Consideramos que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
eNós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que o que o governo nos promete
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.

Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A miséria do Meio Estudantil

A MISÉRIA DO ESTUDANTE BRASILEIRO

Um estudo sobre a miséria reinante do meio estudantil, em seus aspectos econômicos, sociais, psicológicos, sexuais e especialmente INTELECTUAIS. E sobre alguns meios para saná-la.

Ninguém é mais irreversivelmente escravizado do que aqueles que falsamente acreditam ser livres.” - Johan Wolfgang von Goethe

I

O estudante no Brasil é um ser miserável. Ele não é somente afligido por uma miséria material latente, que é óbvia e visível a todos, mas também por uma miséria intelectual, criativa e de iniciativa generalizada que o assombra e aparentemente impede de ver e lidar com seus problemas.

Pois embora seja verdade que o estudante só partilhe da pobreza geral da sociedade, e não poderia ser de outro modo enquanto ele faz parte dela, vê-se que algo o diferencia dos demais miseráveis do capitalismo contemporâneo brasileiro, especialmente aquele que estuda nas escolas particulares do ensino médio e posteriormente nas variadas faculdades, algo que o faz digno da pena de uns, da condescendência de outros e do desprezo de todos.

O que os os diferencia é o conjunto de convicções que esses estudantes mantém sobre sua condição: eles se julgam numa posição privilegiada, melhores, mais cultos e no final das contas, destinados a funções de prestígio e comando, como produto direto do seu período de estudo formal. Eles acreditam que podem escapar ao destino dos demais assalariados e garantir seu quinhão da riqueza produzida, a parcela mais suculenta e sofisticada. Não...esses estudantes não partilharão do destino de um pedreiro ou mecânico de carros!

Pelo menos, é o que gostam de pensar. Mas enquanto alimentam essas ilusões, contribuem para a manutenção de relações sociais baseadas na opressão de classe e nas leis do mercado, fortificam a alienação e a mistificação que mantém a miséria geral participando delas. E o fazem conscientes da natureza do que estão fazendo: justamente por saberem o quanto o mercado é impiedoso é que estudam e por saberem que não há lugar para todos é que se matam a decorar seus verbetes e conceitinhos prontos, de modo a tentar garantir uma vaga na universidade, depois outra no mercado de trabalho. E eles o fazem entusiasticamente! De um modo muito parecido com as vacas de nossas pecuárias no caminho do abatedouro, mas com uma diferença: as vacas sentem o que lhes espera.

Isso porque, desse modo, eles ajudam a construir e perpetuar uma mundo que lhes prepara um futuro nada brilhante: um horizonte em que disputarão ninharias “intelectuais” entre si, em que a sobrevivência se sobrepõe a vida e em que a própria vida vira mercadoria. E o pior: nesse mundo, eles nem mesmo terão a consolação de verem suas pretensões ao privilégio confirmadas. Serão, no máximo, pequenos burocratas e funcionários intermediários, sempre em posições subalternas. Isso se conseguirem emprego, pois sabe-se que não há lugar para todos.

Pois a realidade, em desacordo com o senso comum, lhes impõe uma verdade brutal: o conhecimento formal que lhes é enfiado na cabeça e garganta abaixo não garante de forma alguma que seu detentor tenha algum poder real na sociedade capitalista, pois o que conta aqui é única e tão somente a quantidade de capital disponível em suas mãos. O estudante não tem poder algum: nem sobre os outros, nem mesmo sobre a própria vida.

As ilusões que ele consome para manter sua pretensão ao prestígio são justamente o empecilho principal para a percepção de sua real miséria e para qualquer possibilidade de obter um poder efetivo sobre o curso de seu destino. Elas são o script que o mantém desempenhando seu papel necessário a ordem das coisas. E elas existem justamente em função de sua falta de autonomia e do espetáculo em que ele está inserido.

Foi dito aqui que o estudante é desprezado por todos. Pois bem, a maioria despreza e trata com condescendência (o que é a mesma coisa) os estudantes por razões falseadas e construídas ao longo do tempo pela ideologia dominante. Despreza-o por uma suposta boemia e vadiagem, por uma suposta inconsequência, trata-o de forma condescendente quando se revolta, repetindo à o bordão da Revolta da Juventude, supostamente necessária a ordem natural da sociedade coisificada.

O objetivo dessa série de textos que se inicia aqui é, justamente, demonstrar as razões pelas quais o meio estudantil é de fato desprezível. Denunciar e desmascarar a mediocridade de sua condição e de suas tentavas de se fingir rebelde. Denunciar também, cada ilusão que alimentam, cada sonho pueril que lhes é inculcado e consequentemente o mundo fundamentalmente mentiroso que que está por trás disso tudo. Mostrar, enfim, o que o mundo dos vestibulares, das academias, dos funcionários eficientes e bem comportados, o mundo da mercadoria, tem a oferecer a esses estudantes.

Esperamos, desse modo, ajudar o leitor, caso este partilhe dessa lamentável condição, a fazer uma escolha consciente, num modo de vida que lhe pretende privar de escolhas: ou perpetuar a mentira de seu privilégio e um mundo baseado em mentiras ou reconhecer a verdade de sua miséria e lutar pela subversão total desse mundo. Aos que escolherem a mentira, esperamos fazer ao menos que sintam o peso do ridículo da sua situação, com o conhecimento de que sua farsa foi tornada pública.

Pressupomos, naturalmente, leitores que estejam preparados para conhecer e aprender o novo, de modo a levar o processo de pensamento, da crítica e de sua realização adiante. E, é claro, que estejam dispostos a escolher por eles mesmos. Daqueles que esperam soluções fáceis e prontas, que procuram uma nova teoria da moda a ser consumida de modo embasbacado e acrítico, uma escolha já feita ou induzida, não queremos nada mais do que o seutotal desprezo e a condenação; afinal de contas, apesar desse princípio diplomático ter sido desmoralizado pela ONU e pelos diplomatas presumidamente profissionais ao redor do mundo, prezamos pela reciprocidade de relações.

Le Miserablé, Brasil, 7 de setembro de 2009.

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sábado, 22 de agosto de 2009

Sobre a Força

Força é pois ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe — e um alto monte
Aonde se abre à luz o nosso ninho.

Se nos negam aqui o pão e o vinho,
Avante! é largo, imenso esse horizonte...
Não, não se fecha o mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!

Avante! os mortos ficarão sepultos...
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!

Doce e brando era o seio de Jesus...
Que importa? havemos de passar, seguindo,
Se além do seio d'ele houver mais luz!

Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que inclinam, mudos e impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...

Tu, lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!

Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.

Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro sol, amigo dos heróis!

(Antero de Quental)

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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Nada é Impossível de Mudar



Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar

Bertold Brecht

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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sinal de Menos

Na minha mira,
A auto opressão organizada
Da humanidade desumanizada

No meu discurso
A mais pura negatividade

Em minha mente
O pessimismo do futuro
A urgência do presente
Os mortos do passado

Na minha frente
A aposta da ação
(Única oportunidade
Da redenção)

A negação do que nega o humano
E das ilusões que perpetuam a negação
É a afirmação do que vem
É a revolução!

"A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões" K. Marx - Introdução A Crítica da Filosofia do Direito de Hegel

Goiânia, Agosto de 2009

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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ode ao Alphaville


(Foto: Auschwitz - Birkenau)

Nesses tempos modernos
Os campos de concentração e extermínio
Se encontram não mais no gueto,
mas além-muros

Goiânia, Agosto de 2009

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Honduras e o papel da mídia



Nossos barões da mídia são realmente muito espertos, ou, dependendo da perspectiva, previsíveis. Eles defendem seus iguais e desse modo, os privilégios de que desfrutam por aqui. Para fazê-lo, dispõem de uma imensa máquina de formação de opinião e verdadeira lavagem cerebral, que constrói concepções, opiniões e muitas vezes induzem ouvintes incautos a agirem de acordo com interesses que lhes são de todo alheios.


A última e mais impressionante travessura dos nossos compatriotas se relaciona a um país da América Central que poucas pessoas ouviram falar até pouco tempo atrás, em que se constatou que um presidente constitucionalmente eleito, havia sido deposto pelos militares locais e substituído pelo Presidente do Congresso, Roberto Micheletti.


O que impressiona é a capacidade de iniciativa e a verdadeira estratégia de guerra midiática que foi lançada contra Zelaya, por razões que permanecem obscuras para grande parte da população.


Ao golpe chamam de deposição, e, aos que protestaram contra o golpe e contra o estado de exceção, estão sendo assassinados e reprimidos brutalmente e a isso, chamam incidente. Ao mesmo tempo em que monopolizam a discussão sobre o golpe, cuidadosamente excluem qualquer análise mais aprofundada da situação, o que leva os espectadores a perceberem o golpe e a subseqüente ditadura como dadas.


Esquece-se a história de Honduras, esquecem-se os interesses por trás do golpe, esconde-se a impressionante resistência ao golpe contra um presidente eleito pelo povo, que dizem ser extremamente impopular. Não se comenta a criminosa omissão do Presidente dos USA, Barack Obama, que se recusa a falar com o presidente deposto, ao mesmo tempo em que se diz contra o golpe se recusa a agir contra os golpistas. Lembra-se somente, unicamente do “fato” (fabricado) de que Zelaya “queria a reeleição”, ou seja (?), seria um pretenso ditador.


Então estabelece-se no imaginário da imprensa um confronto entre as forças (vitoriosas) da democracia, representada por Roberto Micheletti, as forças armadas, os empresários e as instituições corruptas de Honduras; e a "ditadura" impopular de um presidente que foi eleito e que planejava, crime horrendo, fazer um plebiscito. Vê-se aí a grande capacidade de fabricar e inventar situações ao gosto do freguês, dos nossos barões e seus exércitos de publicitários.


Mas isso já era esperado. O que muda agora é que podemos, mais do que nunca antes, fazer algo a respeito. Os sites de informação alternativos já oferecem de fato uma alternativa. A guerra permanente dos grandes monopólios de informação contra qualquer tipo de mudança que não os favoreça pode-se declarar um contra guerra dos blogs pela mudança. A desinformação, responde-se com a denúncia e a verdade que vemos com nossos olhos e ouvidos. A internet, já se vê, é uma grande arma!



Já passou do tempo de usá-la.


Para conhecer melhor a situação em Honduras:

Honduras e Obama

James Petras analisa o golpe

Telesur - Única TV cobrindo a resistência

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domingo, 12 de julho de 2009

"Sonhar"

Se és incapaz de sonhar,
nasceste velho,
Se teu sonho te impede de agir conforme a realidade,
nasceste inútil
Se porém,
sabes transformar sonhos em realidade, e tocar a realidade com a luz de teu sonho
Então serás grande no teu mundo ,
e o mundo será grande em ti . . .

Fonte: Havaneiro

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sábado, 13 de junho de 2009

Sentença de Morte em Vida

O que achei ser um retrato forte do sentimento do que é viver sob o julgo do sistema do capital. Meus cumprimentos ao Poeta pela sensibilidade e a rebeldia. Segue o poema:

Porque não me mato agora

Eu não me mato agora

porque já me mataram antes:

Mataram na infância

mataram entre escolas e igrejas

famílias e conceitos de moralidade.

Mataram-me um dia

forma deformada de uma psiquê revoltada

no medo, na incerteza, na inconstância

diante da verdade escondida

de uma sociedade ressequida


Não me mato agora

porque me mataram antes

no meu amor impedido

de proletario, de pobre

de classe, que não pode amar

porque a morte tem que matar

e a sociedade que é morte

fragmenta o tempo e aprisiona

no desespero

integre-se ou morra!

integre-se e morra!


Não me mato hoje

Porque já me mataram

ao me roubarem a luz

a saúde e a vida

mataram para governar

mataram para explorar

mataram porque tinham tudo, mas queriam mais

mataram pela obra de matar

mataram para que seguisse como gado

para como gado trabalhar


Não me mato agora

porque me mataram antes

num destino definido

nos domínios de um deus

sempre deles, nunca meu

me mataram como se mata um menino

que caminha e não dá conta

da morte que o ronda

lhe sopra ao ouvido

a vida não é nada

e quando a vida vira nada

porque impregnou-se de morte

vem o pulo, vem a ponte

mil comprimidos

overdose de cocaína

ergo o revolver à cabeça

Eis, então, a morte consumada!
Rodrigo Choinski

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sábado, 6 de junho de 2009

Se os Tubarões Fossem Homens


Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amáveis para com os peixinhos?

Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adoptariam todas as medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direcção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.

O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.

Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.

Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.

Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.

Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.

Bertolt Brecht

Imagem retirada de do blog Tudo em Cima. O texto foi retirado do Blog do Josafá.

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sábado, 30 de maio de 2009

Vestibular ?! (2)

Contra o Vestibular

As reformas em curso implementadas no Ensino Médio esbarram num obstáculo que a sociedade brasileira recusa-se a discutir: o vestibular. O vestibular brasileiro, em si, não é o principal vilão do afunilamento do acesso à Universidade, mas ajuda em muito a deteriorar nossa prática educativa. Com efeito, segundo dados oficiais, de cada mil alunos que ingressam no primeiro ano do ensino fundamental, apenas 50 chegam às Universidades. Mas o vestibular impele os professores de Ensino Médio a se reduzirem à condição de técnicos em memorização.

O fato é que teoricamente a concepção psicopedagógica que se aplica na maioria dos cursos de Ensino Médio no Brasil e na quase totalidade dos cursos preparatórios ao vestibular é a base conceitual da Escola Comportamental. Esta teoria sustenta que uma pessoa, se condicionada cotidianamente, acaba agindo como o seu adestrador previa. Skinner, um dos elaboradores desta teoria, acreditava que a inteligência era apenas uma adaptação ao meio e que um reflexo condicionado seria o estímulo correto ao desenvolvimento do ato inteligente. Hoje, sabemos, a inteligência significa capacidade de decisão. Não se resume ao condicionamento, mas ao repertório que uma pessoa possui e sua capacidade de criar para resolver um problema inusitado.

O vestibular impede o desenvolvimento da inteligência porque exige uma quantidade exagerada de informações. Como a maioria dos professores de Ensino Médio resolvem esta demanda? Adotam métodos questionáveis de instrução e condicionamento, como é o caso dos "simulados". Os "simulados" são ações repetitivas de exercícios e problemas já empregados em exames vestibulares passados. É o condicionamento programado. O aluno, de tanto fazer "simulados" relaciona uma palavra-chave à resposta esperada. Dois problemas destacam-se neste expediente. O primeiro, diz respeito à noção de verdade científica. Nos dias de hoje, uma verdade científica perdura, em média, três anos. É um erro grosseiro, portanto, condicionar uma pessoa a responder um problema científico da maneira como se respondia há dez ou quinze anos atrás. O segundo problema é que o professor pode instruir o aluno para a prova, mas não o educa para a vida. O mundo globalizado exige capacidade de resolução de problemas novos, o contrário do condicionamento. Para condicionar um reflexo mental é necessário disciplina total. Mas para criar é necessário liberdade e até mesmo uma pitada de indisciplina. O que estou afirmando é que os "simulados" desarticulam o exercício mental da criatividade humana. São péssimos recursos educativos, portanto.

Gostaria, como educador, de vivenciar o fim do vestibular no Brasil. Mas existem alternativas que, se não terminam com esse grosseiro erro pedagógico, podem torná-lo mais inteligente e útil à vida de nossos jovens. Vou citar a experiência norte-americana.

Nos EUA, existem dois exames básicos, preparados por instituições privadas, que os estudantes fazem durante o Ensino Médio (2o grau). Eles podem escolher qual, quando e quantas vezes fazer o teste. Normalmente, preferem faze-lo nos dois últimos anos do curso secundário, pois se sentem mais preparados. O ACT Assessment, consiste em provas de inglês, matemática, compreensão de texto e ciências. O Scholastic Assessment Test, o SAT, traz questões de matemática e inglês. Algumas Universidades exigem que o estudante faça o SAT II, que é centrado em uma matéria específica - história, química, biologia, física e línguas - em mais de um assunto.

Mas, na hora de selecionar seus alunos, a Universidade também pode exigir cartas de recomendação da escola e um texto preparado pelo estudante sobre o curso que escolheu ou outro tema definido pela instituição. É comum também a realização de entrevistas com quem está pleiteando uma vaga e a aplicação de testes práticos se o estudante quer ingressar em cursos como música e artes. Outros fatores também contam ponto: se o aluno está envolvido com atividades esportivas, se é voluntário em atividades comunitárias, hospitais etc. No entendimento das universidades, isso mostra a capacidade de socialização do estudante e o grau de comprometimento com sua comunidade e com seu país. Em outras palavras, é um exemplo de cidadania.

Estas informações podem ser obtidas no site do Ministério da Educação. Não são, portanto, desconhecidas dos nossos governantes. Mas o volume de dinheiro que este mercado do vestibular movimenta, dificulta em muito a superação do nosso vestibular. E muitos pais não percebem o desastre que os métodos de memorização empregados no Ensino Médio representam na vida de nossos filhos.

O escritor Affonso Romano de Sant'Anna escreveu sobre o vestibular brasileiro no seu texto "O Vestibular da Vida". Diz o autor: "um enduro sem moto, um rali sem carro, uma maratona onde, ao invés de atletas, correm paraplégicos, cegos, presidiários, grávidas e doentes em suas macas, esta é a imagem que nos deixa este vestibular realizado esta semana, mobilizando centenas de milhares de jovens em todo o país. (...) Como se fossem dar um salto sem vara. Como se fossem dar um salto na vida." A vida, todos sabemos, é muito mais que um salto.

RUDÁ RICCI

Por RUDÁ RICCI
Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Diretor do Instituto Cultiva (www.cultiva.org.br) e membro da Executiva Nacional do Fórum Brasil do Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa. Blog: rudaricci.blogspot.com. E-mail: ruda@inet.com.br

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Vestibular ?! (1)

Estou começando uma série de posts para discutir o vestibular, esse mito da vida acadêmica, dos adolescentes que sonham com uma universidade e de donos de escola com cursinhos muito lucrativos.

Afinal de contas, o que é o vestibular? Qual a função do vestibular? Quem inventou essa história? Por que ela se mantém? Será que deveria mudar? Hoje em dia, o que significa esse troço?

É o que nos prestamos a discutir. Claro que não exclusivamente, mas é um começo! Quem quiser participar da discussão, está mais do que convidado, desde que tome posição.

Começando...logo!

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sábado, 21 de março de 2009

Começando o Caminho

O movimento é uma inevitabilidade. Resta saber o caminho a caminhar. Irá a velha história se repetir? Irão os caminhos levar ao mesmo velho lugar? Faremos nossa voz ser ouvida ou novamente deixaremos que arranquem nossa voz?

Este blog nada mais é do que a tentativa do autor de juntar a sua voz à daqueles que não o aceitarão e lutam para que o homem coletivo sinta novamenete a necessidade de lutar. Para que um dia o trabalhador, o estudante, o oprimido e o explorado se veja diante da iniquidade e não saia indiferente, que grite um sonoro NÃO a quem lhe propõe a naturalização de sua condição.

Se o objetivo vai ser alcançado ou não, somente a História dirá.

No Caminho com Maiakóvsky


(...)
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

(...)

Poesia Completa

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