sexta-feira, 14 de maio de 2010

Agora eu realmente sei o que terrorismo significa

A perspectiva do morador de Exarchia que testemunhou e filmou o assassinato pela polícia de Alexis Grigoropolous em Atenas, Dezembro de 2008, e os seus sentimentos logo antes do julgamento.


Eu lembro que eu dizia pra mim mesmo, alguns anos atrás, que eu vivia numa zona militarizada, com toda a polícia em volta de Exarchia. Agora, eu digo que vivo numa zona de guerra. O que aconteceu em Dezembro, eu nunca acreditei que pudesse acontecer. Para mim, sempre houve um limite, uma linha final, e quando a polícia passou dele, houve uma mudança qualitativa. Tudo mudou. Todo mundo entendeu que havia um certo horizonte para a situação e além dele tudo era diferente. Nós passamos desse horizonte. Não é mais um conflito, é uma guerra.

Por um mês após o assassinato eu senti ódio, mas também um silêncio inacreditável. Era a primeira vez em dez anos que Exarchia estava silenciosa, um silêncio de morte. Era muito desconcertante. Agora eu tive tempo de pensar sobre tudo, mas naquele comecinho eu estava completamente exausto de falar sobre o assunto, todas as perguntas. Eu coloquei o meu vídeo no Indymedia e de lá as estações de TV o pegaram. Logo, jornalistas estavam ligando pra mim constantemente e eu estava vendo meu vídeo em todo lugar. Pelos primeiros meses eu estava num estado muito estranho. Eu nunca estava calmo. Eu fiquei em estado de choque por um mês. Agora eu me sinto melhor, mas toda vez que eu ouço um certo som...a grana de efeito que a polícia usou poucos minute antes deles matarem Alexis acionou um alarme de segurança em uma das lojas, ou talvez um carro. Então durante o vídeo inteiro você ouve um alarme de segurança tocando no fundo. Eu continuei a ver o meu vídeo em todo lugar, ele estava na TV e tudo o mais, e quando eu ouço esse alarme específico no outro lado da rua, o sentimento do tiroteio volta para mim. Eu realmente quero pedir a eles pra mudaram o som do alarme porque todas as memórias voltam pra mim. É inacreditável que um som traga de volta esses sentimentos que tomaram um mês para que eu me recuperasse deles.

O assassinato de Alexis foi a gota d'água. Não há mais tolerância para a polícia. A morte foi tão absurda, tão além dos limites. As pessoas reagiram e continuam a reagir. Elas estão fortalecidas pela ira que foi expressa logo após o assassinato. Haviam muitos outros problemas também, além da brutalidade policial. Esses problemas continuam, mas a pessoas não os toleram mais, não mais.

Eu não sei se Exarchia é mais autônoma agora do que antes. As pessoas, aqueles que são ativos, eles tentam. E eu, eu sempre me senti autônomo, mas agora eu realmente sei “terrorismo” significa. Do dia que eles mataram Alexis até o dia em que o grupo guerrilheiro atacou a polícia, ela não apareceu na esquina onde Alexis foi morto. Mas quando o Luta Revolucionária fez esse ataque, a primeira coisa que a polícia fez foi ocupar o lugar onde Alexis levou o tiro, e eles ficaram lá por 24 horas. E era a tropa de choque, com capacete, armas e tudo o mais. E quando eles vieram no meio dia, eu estava na janela e um deles olhou pra mim. Eu acho que porque durante esse tempo todo o telefone estava tocando, jornalistas estavam ligando e tentando descobrir de onde tinha surgido o vídeo. Quando um dos policiais olhou pra janela, eu gesticulei tipo, “o que você quer?” E ele deu um soco no cara do lado e apontou para mim, e eu ficou completamente aterrorizado pelo modo como eles estavam me olhando. Essa noite, eu ouvi alguns vizinho s falando, e depois chorando, e os policiais estavam parados exatamente no lugar ondeAlexis morreu. Eu saí para ver o que estava acontecendo, e porque eu não conseguira ver eu olhei discretamente pela minha janela e um dos policiais me viu. Eu fiquei aterrorizado então eu voltei de volta pra dentro mas o policial veio para debaixo da minha janela e fez contato visual comigo. Eu achei que eles iam invadir meu apartamento. Então eu fui para a casa do vizinho. Eu estava aterrorizado.

É a isso que eu chamo “terrorismo”. É impossível apenas ficar na minha janela olhando para a rua. Outra vez, em fevereiro eu acho, havia um carro queimando na minha rua, e a polícia veio de novo e ficou olhando para mim, e eu fiquei assustado e voltei pra minha casa. O policial gritou para mim “Então você está se escondendo, é?”, e aí eu percebi, “Que merda está acontecendo, porque eu me escondo?”, então eu fui de volta para a janela e comecei a tirar fotos. E a polícia começou a tirar fotos de mim.
Dá pra ver tudo dessa janela. É por isso que eu estou pensando em colocar uma câmera aqui, para os policiais e também para esses jovens que fazem muitas coisas sem pensar porque eles fazem. Porque em todo lugar há algumas pessoas que podem fazer um pequeno erro e todo o resto tem que lidar com as consequências. Alguns dizem que isso é Exarchia, a única coisa a fazer é queimar as lojas. Mas essa não é a verdade. Há muitas reações possíveis além do dogma de queimar e quebrar.

Então estarei no julgamento do policial que matou Alexis. Eu estava preocupado sobre como eu me sentiria em relação ao advogado de defesa, porque ele está defendendo uma pessoa muito má. Então eu comecei a me preocupar sobre o resultado do julgamento. Se esse policial acabar com apenas dois ou três anos de prisão, eu não sei como eu reagiria. Como você reage a uma decisão de um julgamento como esse? Muitas coisas aterradoras estão acontecendo, nós ouvimos sobre elas e as vemos nas notícias, mas é muito diferente quando você as vê com os seus próprios olhos. Não são apenas palavras, são realidade para você, não há dúvida, não há distância do fato. O assassinato é uma verdade tão absoluta, é como se você roubasse alguma coisa de mim, na minha frente, e então me dissesse que essa coisa nunca existiu. Não é algo que você apenas ouviu a respeito de algum outro lugar. E eu temo muito que se eles determinarem que o policial não é culpado, talvez a minha reação vai me jogar na cadeia. Eu penso sobre isso o tempo todo enquanto me preparo para testemunhar.

Traduzido por L.M. em Maio de 2010. Fonte: Libcom

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Org. Rev. e Comprometimento Individual

(...) Aqui são oferecidas 20 regras a ser seguidas pelo indíviduo ao lidar com o meio "pró-revolucionário":

1. Você não tem que “entrar” em nada – coloque os seus próprios termos de compromisso com o grupo.

2 .Só dê aquilo que você se sente confortável dando.

3. Nunca tolere pressão moral para participar em "ações”. Em resposta aos ativistas “holy joes” diga “não deveríamos fazer nada” para tentar criar campos diferentes.

4. A revolução não depende da sua conformidade à uma ou outra forma de consciência, então não se sinta preso à ortodoxias ou as exija dos outros.

5. Todos os grupos geralmente sobrevivem do trabalho de um ou dois indivíduos, então se você realmente contribui de alguma forma você está fazendo mais do que a maioria – e sempre fale como você mesmo e não como o grupo.

6. É possível ser pró-revolucionário e ter uma vida normal; não fuja para Brighton; não adote uma personalidade extremista; não confunda a cultura pop/drogas/de escape com revolução.

7. Se tentar “viver” a sua política você vai se separar ainda mais de outras pessoas, limitando dessa forma as experiências e perspectivas que você compartilha.

8. Tente se comprometer ao longo termo mas com um baixo nível de intensidade, entenda que o entusiasmo inicial vai acabar à medida que tudo que você faz cai em ouvidos surdos e termina em fracasso.

9. Lembre que o papel dos pró-revolucionários não é fazer as revoluções mas criticar aqueles que se proclamam revolucionários – em outras palavras: empurrar aqueles que são politizados rumo a uma consciência pró-revolucionária.

10. Só porque no futuro você vai se desiludir e esgotar-se, e pensar que pró-revolucionários são masturbadores intelectuais, não prossegue que a revolução é impossível.

11. Lembre que a revolução não canoniza os revolucionários, ela os abole.

12. Comece criticando todas as camarilhas. Se você está numa manifestação e, olhando em volta, percebe que todo mundo se veste da mesma forma e tem a mesma idade que você, há algo errado – espere que hajam agendas secretas e “feudos”.

13. Grupos só devem existir para atingir um propósito declarado a curto prazo. Todos os grupos que existiram por mais de 5 anos já sobreviveram à sua utilidade.

14. Não se deixe levar por campanhas de questão única a não ser que você especificamente queira uma reforma em particular; a revolução não vai sair de direitos animais, legalização da maconha, paz, etc.

15. Há uma tendência cíclica em grupos para “construir” grandes eventos anti-capitalistas – resista a isso, avalie porque grupos gostam tanto de um espetáculo, então pense no dia após o Primeiro de Maio.

16. Quando alguém faz uma declaração, pense pra você mesmo: quem está falando, o que eles realmente querem dizer – o que eles querem de mim?

17. Muitos pró-revolucionários tem empregos razoáveis, levam origem comfortáveis e depois mentem sobre isso/adotam sotaques de “proletários”, etc. Eles tem uma rede de segurança, e você? Não entregue demais.

18. Não procure pureza ideológica, isso não existe. Se lhe apetece, se você tem alguma razão, então participe o quanto você quiser de qualquer grupo político reformista ou instituição, enquanto você não taxá-lo de alguma importância “revolucionária”. A sua consciência pró-rev. deve se manter separada da atividade política e pessoal.

19. Não há necessidade de sair procurando “acontecimentos” – eles te encontrarão. Desse modo a sua efetividade vai ser multiplicada porque você estará pronto e agirá de um certo modo com o qual as pessoas em volta poderão aprender, por exemplo, perspectivas de solidariedade, de “nós contra eles”, de “tudo ou nada”, etc.

20. Se te ajudar, pense assim: você é um agente do futuro; você deve viver uma vida normal nas circunstâncias em que se encontra. Talvez você nunca fale a ninguém sobre tudo o que pensa mas isso não importa, porque quando a situação surgir você vai estar no lugar para dizer tudo que é apropriado porque esse é precisamente o seu papel (e o de mais ninguém). O tempo todo você está se preparando para fazer a sua contribuição, e um dia você fará algo, você não tem ideia do que é, mas será importante.

Monsieur Dupont, in "The Wind-Down of the Clockwork Lips' ", 2003.
Traduzido por L.M. em Maio de 2010.

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um empregado do banco em que morreram os três funcionários declara:

As mortes trágicas de hoje em Atenas deixam pouco espaço para comentários – estamos todos muito chocados e profundamente entristecidos pelos acontecimentos. Para aqueles que especulam que as mortes podem ter sido causadas propositalmente por anarquistas, nós podemos dizer apenas o seguinte: não tomamos as ruas, nem arriscamos nossa liberdade e nossas vidas confrontando a polícia grega com o objetivo de matar outras pessoas. Anarquistas não são assassinos, e nenhuma lavagem cerebral por parte do Primeiro Ministro grego Papandreou, da mídia nacional e internacional deve convencer ninguém do contrário.

Com isso dito, e com os acontecementos ainda se desenvolvendo freneticamente, nós queremos publicar uma tradução “bruta” de uma declaração de um empregado do Banco Marfim – o banco cuja filial foi incendiada em Atenas hoje, onde os três empregados tiveram uma morte trágica.

Leia a carta, traduza-a, espalhe-a nas suas redes; contra-informação de base tem um papel crucial num momento em que o Estado grego e a mídia corporativa estão lançando uma ofensiva contra o movimento anarquista aqui na Grécia.

Eu sinto uma obrigação em relação aos meus colegas que morreram tão injustamente hoje para falar publicamento e dizer algumas verdades objetivos. Estou mandando essa messagem para todos os meios de comunicação. Qualquer um que ainda tenha alguma consciência deve publicá-la. O resto pode continuar a jogar o jogo do governo.
Os bombeiros nunca deram uma licença de funcionamento para o prédio em questão. O acordo para que ele funcionasse foi feito debaixo da mesa, como praticamente acontece com todos os negócios e companhias na Grécia.
O prédio em questão não tem nenhum mecanismo de segurança contra incêndio, nem planejados nem instalados – quer dizer, ele não tem chuveiros de teto, saídas de emergência ou mangueiras para incêndio. Existem apenas alguns extintores de fogo portáteis que, evidentemente, não podem ajudar a lidar com um fogo intenso numa construção que foi feita com padrões de seguranças ultrapassados à muito.
Nenhuma filial do banco Marfin deu treinamento adequado a qualquer empregado sobre como lidar com fogo, nem mesmo sobre como usar os poucos extintores. A gerência também usa os preços altos de tal treinamento como um pretexto e não tomarão sequer as medidas mais básicas para proteger seus funcionários.
Nunca houve um único exercício de evacuação em qualquer prédio para funcionários, nem sessões de treinamento por parte dos bombeiros, dando instruções para situações como essa. As únicas sessões de treinamento que houveram no Banco Marfim diziam respeito a situações de ação terrorista e estas eram planjeadas especificamente para uma fuga segura dos “cabeças” do banco em tais situações.
O prédio em questão não tinha nenhuma acomodação especial para o caso de incêndio, apesar da sua construção ser muito frágil em tais circunstâncias e dela estar cheia de materiais do chão ao teto. Materiais que são muito inflamáveis, tais como papel, plástico, fios, móveis. O prédio é objetivamente inadequado para uso como um banco devido a sua estrutura.
Nenhum membro da segurança tem qualquer conhecimento de primeiros socorros ou exstinção de incêndio, apesar deles serem praticamente encarregados da segurança do prédio. Os funcionários to banco tem que se tornar bombeiros ou seguranças de acordo com o apetite do Sr. Vgenopoulos [dono do Banco Marfin].
A gerência do banco proibiu estritiamente os empregados de sair hoje, ainda que eles tenham pedido persistentemente para fazê-lo cedo nessa manhã – enquanto eles também forçaram os funcionários a trancar as portas e repetidamente confirmaram que ela tinha permanecido trancada ao longo do dia, por meio do telefone. Eles até bloquearam o acesso à internet no prédio para prevenir os empregados de se comunicarem com o mundo exterior.
Por vários dias tem havido uma verdadeira terrorirazação dos empregados do banco sobre a mobilização desses dias, com a “oferta” verbal: ou você trabalha, ou você é demitido.
Os dois policiais à paisana que são mandados à filial em questão para prevenção de roubos não apareceram hoje, apesar da gerência ter prometido verbalmento aos empregados que eles estariam lá.
Finalmente, senhores, façam a sua auto-crítica e parem de andar por aí fingindo estar chocados. Vocês são responsáveis pelo que aconteceram hoje em qualquer estado de direito (como os que vocês gostam de usar periodicamente como exemplos principais nos seus shows televisivos) vocês já teriam sido presos pelas ações acima. Meus colegas perderam suas vidas hoje por cukpa da málicia: a maĺicia do Banco Marfim e do Sr.Vgenopoulos pessoalmente, que declarou explicitamente que quem não viesse ao trabalho hoje [5 de maio, uma dia de greve geral!] não deveria se importar em aparecer no trabalho amanhã.

Fonte: Occupied London

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Sobre a greve geral na Grécia e a morte de três funcionários

Declaração da ocupação anarquista de Skaramanga e Patision em Atenas.

Os assassinos “entram em luto” por suas vítimas

(Sobre a morte trágica de 3 pessoas hoje)

A enorme manifestação da greve que tomou lugar hoje, 5 de maio, se tornou em um escoamento social de raiva. Pelo menos 200.000 pessoas de todas as idades tomaram as ruas (empregados e desempregados, no setor privado ou público, locais ou imigrantes) tentando, ao longo de várias horas e em ondas consecutivas, cercar e ocupar o Parlamento. As forças da repressão apareceram com força total, para cumprir seu papel habitual – o de proteger as autoridades políticas e financeiras. Os confrontos duraram várias horas e foram intensos. O sistema político e suas instituições alcançaram seu ponto mais baixo.

No entanto, no meio de tudo isso, um evento trágico que nenhuma palavra poderia descrever tomou lugar: 3 pessoas morreram devido à fumaça numa filial do Banco Marfim na Avenida Stadiou, que tinha sido incendiado.

O Estado e a escória jornalística, sem nenhum pudor em relação aos mortos e seus parentes, falaram desde o primeiro momento sobre alguns “assassinos-mascarados jovens”, tentando tomar vantagem do acontecido, de modo a acalmar a onda de fúria social que havia irrompido e recuperar sua autoridade que havia sido despedaçada; para impor novamente uma ocupação policial das ruas, extinguir as fontes de resistência social e desobediência contra o terrorismo de estado e a bárbarie capitalista. Por essa razão, durante as últimas horas, as forças polícias têm marchado pelo centro de Atenas, realizado centenas de detenções e também invadiram – com tiros e granadas de efeito moral – a ocupação anarquista “espaço de ação multiforme unificada” na rua Zaimi e o “refúgio imigrante” na Rua Tsadamadou, causando grandes danos (ambos esses lugares estão no bairro Exarcheia de Atenas). Ao mesmo tempo, a ameaça de uma desocupação violenta pela polícia está pendendo sobre os outros espaços auto-organizados (ocupações e refúigios) depois do discurso do Primeiro Ministro que se referiu a incursões nos próximos dias para a prisão dos “assassinos”.

Os governantes, os oficiais do governo, os seus empregados políticos, seus porta-vozes da TV e os seus jornalistas alugados tentam dessa forma purificar o seu regime e criminalizar os anarquistas e toda voz de luta não autorizada. Como se houvesse sequer a mínima chance de que quem atacou o banco (seja lá quem for e supondo que a versão oficial se sustente) poderiam possivelmente saber que haviam pessoas lá dentro, e que eles iriam incendiá-lo sem se importar. Eles parecem confundir as pessoas em luta com eles mesmos: eles que sem nenhum hesitação entregam a sociedade inteiro à mais profunda pilhagem e escravidão, que ordenam seus pretorianos a atacar sem nenhum hesitação e a mirar e atirar para matar, eles que levaram três pessoas ao suicídio apenas na semana passada, devido à dívidas financeiras.

A verdade é que o real assassino, o verdadeiro instigador da morte trágica de hoje de 3 pessoas é o “senhor” Vgenopoulos, que se utilizou da chantagem costumeira de chefe (a ameaça da demissão) e forçou seus empregados a trabalhar nas filiais do seu banco durante um dia de greve – e mesmo numa filial como a da Avenida Stadiou, onde os manifestantes da greve passariam. Tal chantagem é familiar até demais para qualquer um que vivencie o terrorismo da escravidão assalariada cotidianamente. Estamos esperando para ver que desculpas Vgenopoulos irá arrumar para os parentes das vítimos e para a sociedade como um todo – esse ultra-capitalista agora sugerido por alguns centros de poder como o próximo primeiro-ministro num futuro “governo de união nacional” que seguiria ao prevísivel e completo colapso do sistema político.

Se uma greve sem precedentes pode ser uma assassina...

Se uma manifestação sem precedentes, numa crise sem precedentes, pode ser uma assassina...

Se espaços sociais abertos que são vivos e públicos podem ser assassinos...

Se o Estado pode impor um toque de recolher e atacar manifestantes sob o pretexto de prender assassinos...

Se Vgneopoulos pode prender seus empregados dentro de um banco – quer dizer, um inimigo social e alvo primário para manifestantes...

...é porque a autoridade, esse assassino em série, quer abater no nascimento uma revolta que questiona a suposta solução de um ataque ainda mais duro contra a sociedade, de uma pilhagem ainda maior pelo capital,

...é porque o futuro da revolta não inclui os políticos e os patrões, nem os policiais e nem os meios de comunicação de massa.

...é porque por trás da tão propagandeada solução “única”, há uma solução que não fala de taxas de crescimento e desemprego mas, ao invés disso, fala de solidariedade, auto organização e relações humanas.

Quando perguntam quem são os assassinos da vida, da liberdade, da dignididade, os fermentos da autoridade e do capital, eles e seus agregados precisam apenas olhar para si mesmos. Hoje e todo dia.


TIREM AS MÃOS DOS ESPAÇOS SOCIAIS LIVRES

O ESTADO E OS CAPITALISTAS SÃO OS ASSASSINOS, TERRORISTAS E CRIMINOSOS

TODOS PARA AS RUAS

REVOLTA-TE!



da assembléia aberta na tarde de 5/5/2010

Fonte: http://www.occupiedlondon.org/blog/


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terça-feira, 4 de maio de 2010

O Grande Jogo da Guerra Civil

regra no. 1

até próximo aviso, todos os seus direitos estão suspensos. Naturalmente, você deve manter a ilusão de que ainda tem alguns por um tempinho. Desse modo, nós podemos violá-los um a um, caso a caso.

regra no. 2

Seja legal. Não mencione leis, a constituição, ou qualquer uma das elucubrações de outra era para nós de agora em diante. Algum tempo atrás, como você há de ter percebido, nós aprovamos certas leis que nos colocam acima da lei, e do resto da assim chamada “constituição”.

regra no. 3

Você é fraco, isolado, estúpido, maltratado. Somos numerosos, organizados, fortes e esclarecidos. Alguns podem até dizer que somos uma máfia; é mentira – nós somos A máfia, a que ganhou de todas as outras. Apenas nós podemos te proteger do caos do mundo. E é por isso que nos agrada tanto fazer com que você pense que é fraco, que você acredite que está “inseguro”. É o que faz o nosso esquema lucrativo.

regra no. 4

Para você, o jogo consistirá em fugir, ou pelo menos tentar. Por fugir nós queremos dizer: ir além do seu estado de dependência. Por agora, é verdade, você depende de nós em todos os aspectos da sua vida. Você come o que produzimos, respira o que polúimos, você está indefeso ante o primeiro problema dentário e acima de tudo você não pode fazer nada contra a soberania de nossas forças policiais, às quais demos poderes de alcance total tanto em termos de discrição quanto de ação.

regra no. 5

Você nunca vai conseguir escapar sozinho. Consequentemente, você vai ter começar construindo a necessária solidariedade. Para tornar o jogo um pouco mais difícil, nós liquidamos todas as formas de sociabilidade autônoma. Deixamos apenas uma coisa sobreviver: o trabalho; ou seja, a sociabilidade controlada. É disso que você vai ter que fugir, por meio do roubo, da amizade, da sabotagem e da auto-organização. Ah, a propósito: todos os meios de escapar foram tornados crimes.

regra no. 6

Nós o diremos de novo e de novo: os criminosos são nossos inimigos. Mas você deve tirar disso o seguinte: todos os nossos inimigos são criminosos. Como fugitivos em potencial, cada um de vocês é também um criminoso em potencial. Por isso, é uma coisa boa que mantenhamos nossas listas dos números para os quais vocês ligam com seus telefones, e que os seus celulares nos permitam localizá-los a qualquer momento, e que o seu cartão de crédito nos permita conhecer os seus hábitos tão facilmente.

regra número 7

Nesse pequeno jogo nosso, qualquer um que escape de sua isolação serão os “criminosos”. Quanto a aqueles que tem a ousadia de reclamar dessa situação, nós os chamaremos de “terroristas”. Nos últimos se pode atirar para matar em qualquer momento.

regra no. 8

Sabemos muito bem que a vida em nosso sociedade contém quase tanta alegria quanto uma viagem num trem suburbano; que o capitalismo tem até agora produzido, em matéria de riqueza, nada além da desolação universal; que não restam argumentos para defender nossa “ordem” decadente além das granadas de efeito moral de nossa polícia. Mas o que você esperava, a vida é assim! Nós te desarmamos mentalmente e fisicamente, e nós temos o monopólio sobre o que proibimos a você; a violência, a conspiração, o levante. E afinal de contas, francamente, o que você faria no nosso lugar?

regra número 9

Você vai conhecer a prisão.

regra número 10

Não há mais regras. Todos as agressões estão permitidas.

Assinado,

SEU GOVERNO

Texto escrito pelo grupo Tiqun e traduzido por L.M. em Maio de 2010. A discussão desse texto ainda está por ser feita.

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Último Aviso Ao Partido Imaginário Sobre O Espaço Público

Artigo Primeiro

O espaço público é feito para a troca a circulação de mercadorias. Como todas as outras mercadorias, as pessoas podem se mover livremente dentro dele.

Artigo 2

Espaço público é espaço que pertence a ninguém. Aquilo que pertence a ninguém pertence ao Estado. O Estado outorga à semiocracia mercadológica a ocupação desse espaço.

Artigo 3

Escritórios são feitos para se trabalhar. A praia é feita para se bronzear. Aqueles que desejam se entreter tem espaços de lazer, discotecas e outros parques de diversão feitos para tais propósitos. Nas bibliotecas, estão os livros. Nos asilos ficam os velhos. Nas casas estão as famílias. A vida é feita de momentos destacáveis. Cada momento em seu devido lugar. Tudo em ordem. Sem reclamações.

Artigo 3 bis

A desordem também tem a sua função especial. Ela encaixa de volta no Todo, no lugar pré-estabelecido para eventos imprevistos. Para o bem estar de todos, os cidadãos são convidados a entrar no caminho público durante festivais organizados para a sua atenção, em intervalos regulares, por equipes de serviço sob o comando do Ministério do Interior e do Ministério da Cultura. Nossos agentes de ambientação estão lá para serví-los. E você poderia ser legal com eles, você sabe, ainda que esteja sob domínio deles; isso não está proibido!

Artigo 4

Será designado a cada criança um respectivo adulto-em-chefe. Esse adulto é responsável ante a lei pelo comportamento da criança atribuída a ele ou ela. Devido ao treinamenento psico-social ainda incompleto, e no interesse do seu apropriado desenvolvimento, as crianças não hão de brincar no espaço público sem a vigilância de seus respectivos adultos-em-chefe. De qualquer modo, as crianças são classificadas em dois grupos: os hiperativos, que receberão ritalim, e os hipoativos, que receberão prozac.

Artigo 5

No interesse de preservar a paisagem e respeitar o meio ambiente social, os corpos que não se conformam às normas estéticas/sanitárias dominantes, como publicadas diariamente na imprensa nacional, irão por favor abster-se de circular em áreas públicas entre as 9 horas da manhã e 8:30 da noite. Durante esse período, no entanto, pedintes serão tolerados durante as horas de maior tráfego, onde eles participarão da edificação comum de todos pelo exemplo repulsivo que constituem.

Artigo 6

O propósito da vida é a felicidade. A felicidade é um dado objetivo mensurável em quantidades exatas. Hoje em dia todo mundo sabe que onde há transparência, há felicidade; aqueles que não buscam se exibir só estão tentando se esconder, e tudo que tenta se esconder deve ser considerado suspeito. Consequentemente, é o dever do Biopoder intervir e ajudar a fazer com que toda a opacidade em nossas vidas desapareça. O biopoder te quer feliz. Se necessário, ele vai querer apesar de você.

Artigo 7

Para a segurança de todos, o espaço público deve ser mantido inteiramente sob vigilância. Onde o controle ainda é imperfeito, as massas estão convidadas a por favor guardar para elas mesmas todo comportamento ofensivo à dignidade humana. Todas as reuniões anônimas e todo comportamento fora do normal devem ser informados à patrulha da Ação de Vigilância Preventiva mais próxima. Denunciar agentes do Partido Imaginário em nosso meio é o dever de todos os cidadãos; faça isso pelo seu próprio bem e pelo bem geral.

Artigo 8

O espaço público é um espaço neutro, o quer quer dizer que, nele, toda manifestação de uma existência singular é um ataque na integridade das outras. Todos os recursos disponíveis serão utilizados - o urbanismo, cenários apropriados, a monitoração de controle contínuo (CCM), etc. – para fazer com que sejam impossíveis tais demonstrações e o incômodo intolerável que elas causam aos nossos co-cidadãos.

Artigo 9

Agradecemos a todos que contribuíram com seu bom comportamento para que esses princípios não precisassem ser ditos.

Artigo 10

NADA JAMAIS HÁ DE ACONTECER NOVAMENTE.

Traduzido por L.M. em Maio de 2010. Fonte: Tiqun

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