quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Greve Geral na França


Traduzido e adaptado do original em inglês em Libcom por L.M. Solidariedade com o proletariado em luta na França e no mundo inteiro!

Anteontem – 12 e outubro – houve uma Greve Geral na França – a terceira em 5 semanas (as outras foram em 7 e 23 de Setembro). Possivelmente 3.500.000 marcharam nas ruas pela retirada da extensão da idade para aposentadoria de 60 para 62 ou de 65 pra 67 para pensões estatais.


A greve foi bastante ampla, afetando tanto o capital francês como o internacional (por exemplo, a empresa Ryanair teve que cancelar 230 vôos). Apesar dela certamente não ter sido total, ela envolveu o controle do tráfego aéreo, trens e ônibus, refinarias, escolas, universidades, setores de gasolina e eletricidade, portos, correios, estações de previsão do tempo (que garantiram que a chuva, pela maior parte, não furasse a greve), coletores de impostos e muitos outros setores – até mesmo algumas polícias municipais entraram em greve (os pobrezinhos estão reclamando publicamente sobre a depressão suicida causada pelo estresse do trabalho). Bloqueios de rua e Assembléias Gerais apareceram bastante e muitos setores vão continuar a greve indefinidamente. 

Muitos liceus (escolas de ensino médio) tomaram parte, com o próprio Ministério da Educação admitindo mais de 230 piquetes (apesar das estatísticas estatais serão apenas um pouquinho mais confiáveis que as eleições em que “99.9% a favor de Ceacescu” dos regimes estalinistas). Muitas das greves nos liceus foram lançadas por meio do facebook ou sms, apesar de haverem algumas associações estudantis, frequentemente com agendas políticas obscuras, por trás delas também.


E, é claro, houve o tradicional mini-motim no fim da manifestação em Paris enquanto a noite caía, sem a qual nenhuma grande manifestação parisiense está completa.


Em si, a greve não soa muito interessante – outra Greve Geral de 24 horas sobre um detalhe de política governamental; um detalhe que, além disso, parece desimportante para aqueles que só podem se aposentar com 65 anos como no Brasil (que está estudando lei similar). Mas esse detalhe está rapidamente se tornando um pretexto para uma crítica total dessa sociedade estúpida e doentia.


Tomem por exemplo esse panfleto anunciando um evento numa escola que vem sendo importante para o desenvolvimento do movimento estudantil:

Avancemos rápido e sem recuo!
Reforma da idade de aposentadoria, ataques a imigrantes, demissões, cortes em massa de seguro desemprego para os desempregados e, mais amplamente, uma repressão crescente sobre todos aqueles que são pobres, jovens ou marginalizados...o Estado quer garantir aos patrões condições “favoráveis” de exploração.

Essa política vai além das fronteiras nacionais. Na Espanha, Grécia, Portugal, Alemanha ou Irlanda...os mesmos “planos de austeridade” são arranjados nos ministérios governamentais. O objetivo dos governantes é dinamizar a economia confrontada pela competição global.
E tudo isso vai nos manter fazendo o nosso serviço monótono, trabalhando duro e “apertando os cintos” no interesse da classe dominante!?
Se se encontra a mesma lógica política nos quatro cantos da terra, é pelas “necessidades” do desenvolvimento económico e certamente não pelas necessidades da população. O sistema capitalista sempre concentra riqueza mais e mais. Os meios de produção são concentrados em menos e menos mãos. Continuando nesse caminho, o sistema só pode intensificar a violência social. Nenhum Estado, nem nenhum governo, vai mudar qualquer coisa. A máquina foi ligada e as instituições que dependem dela botam óleo nas suas engrenagens sem nenhum escrúpulo.
A única força que pode descarrilar essa máquina é a nossa: a força dos explorados, dos excluídos, daqueles sem futuro...é vital intensificar o movimento e organizar a convergência das lutas diferentes. A batalha lançada pelos estudantes de ensino médio, pelos motoristas de trem, pelos estivadores...nasce da mesma recusa em aceitar o destino reservado para nós. A conversa de vendedor de carro usado dos sindicatos e dos partidos esquerdistas apenas reforça as nossas separações em prol de seus interesses e programações eleitorais. É somente agindo em conjunto que nós podemos sair da nosso isolamento e vencer nossas lutas.
A emergência de um movimento social autônomo e radical, necessitando da participação de todos os proletários, é uma necessidade óbvia e cada vez mais urgente, essencial no mundo inteiro.
Seja onde estivermos, vamos nos juntar e lutar para construir uma resistência real e concreta.
Contato: uncollectifenlutte@riseup.net


A greve tem continuado em alguns setores hoje – em Paris, por exemplo, apenas 25% dos trens estavam andando essa manhã, causando engarrafamentos massivos (apesar de que, assim como com as estatísticas do Ministério da Deseducação, essas estatísticas parecem mudar constantemente, mesmo  quando cobrindo os mesmos períodos de tempo, provavelmente dependendo do equilíbrio entre a pressão sendo colocada em cima dos compiladores de estatísticas e o seu uso de cocaína/uísque). E em todo lugar vários liceus que não aderiram ontem estão aderindo agora. Da mesma forma, Assembleias Gerais esporádicas estão brotando em vários lugares, propondo coisas como bloqueio de bancos, interrupção do tráfego de carros por meio do uso subversivo das ruas, ocupações de escritórios de seguridade social – mas até agora permanece por ser visto o que vai vir desse tipo de proposta.

A exigência da retirada do adiamento da idade de aposentadoria dentro do capitalismo é essencialmente uma demanda daqueles que não querem encarar a necessidade de fazer uma revolução para alcançar até mesmo a menor das melhorias na sua condição: o capital só pode retirar essa reforma por meio de ataques ainda maiores – fazendo cortes enormes nos gastos estatais em outro lugar para se recuperar da perda, conjuntamente com aumentos gigantescos nos impostos diretos. Essas pessoas não querem tirar a conclusão revolucionária óbvia que vem mesmo de um detalhe relativamente desimportate da miséria intensificada que é o adiamento da idade de aposentadoria.


Essas pessoas provavelmente vão votar pelo PS (Partido Socialista, um esquema cada vez mais neoliberal com o cabeça do FMI, Strauss-Khan, como seu favorito para o próximo candidato a presidência). O PS está atualmente prometendo diminuir a idade de aposentadoria de volta pros 60 (se eles vão cumprir a promessa é outra questão). Dada a enormidade do deficit estatal, os ataques de austeridade fazem mais sentido dentro do capitalismo do que talvez no Reino Unido (sic. trad.) - que é a razão pela qual o Estado não cede de jeito nenhum e é a razão pela qual toda o blá blá esquerdista tentando ser 'razoável' (dentro de termos capitalistas) não faz sentido – ou se luta por uma comunidade contra o capital com idéias como parte dessa luta, ou você se prende em todo tipo de contradição inutilmente complexa por estar falando a linguagem do inimigo.

Fuga de capitais – desinvestimento – é uma possibilidade a médio prazo e tem que ser levado na discussão como parte do problema da luta internacional. E essa fuga pode/vai acontecer como resultado de uma possível revolta significativa – com ou sem aumento de impostos para os ricos. Argumentos da esquerda do tipo -”vote em nós e tornaremos o Estado seu servo” - ainda parecem presumir uma autonomia relativa de cada estado nação, ou isso ou eles fantasiam que, com a sua subida ao poder nas costas de uma agitação social, essa relativa autonomia poderia ser recuperada; de qualquer forma, é uma perspectiva capitalista utópica e impossível.


É tudo ou nada.

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