segunda-feira, 28 de março de 2011

Sinais de derrota da revolução Líbia

Declaração contra a exclusão aérea por um anarquista líbio
The signs of the defeat of Libyan revolution
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Em algumas horas, o Conselho de Segurança da ONU vai determinar o início da exclusão aérea contra a Líbia. A França disse que está preparada para começar o bombardeio a partir de hoje à noite.
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Condenamos essa resolução internacional, se ela for realizada. E rejeitamos totalmente qualquer intervenção estrangeira na Líbia, seja qual for a forma que tome, especialmente uma intervenção francesa. A França, que vendeu a Qadafi armas no valor de bilhões, armas que hoje ele está usando para explodir Líbios, a mesma França que não interrompeu essas vendas até 3 semanas atrás.
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Condenamos essa intervenção que vai transformar a Líbia em um verdadeiro inferno, ainda mais do que é agora. Essa intervenção também vai roubar a revolução dos Líbios, uma revolução que já lhes custou milhares de homens e mulheres mortos até agora.
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Uma intervenção que também vai dividir a resistência Líbia..
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E mesmo se essas operações tiverem sucesso e Qadafi caia (ou morra) como Saddam Hussein, isso vai significar que fomos libertados por americanos e franceses, e eu posso garantir que eles vão ficar nos “relembrando” disso a cada minuto.
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Como poderemos tolerar isso depois? Como vamos explicar todas essas mortes às gerações futuras, todos os cadáveres que estarão em todo lugar?
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Para sermos libertados de Qadafi apenas para virarmos escravos daqueles que lhe deram armas e poder durante todos esses anos de violência autoritária e repressão?
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Após o primeiro erro – a militarização de uma revolução popular – estamos cometendo agora o nosso segundo erro – o estabelecimento de novas figuras de líderança surgindo dos remanescentes do regime Jamahiriya líbio. E nosso terceiro erro, que vai acontecer inevitavelmente, é o de pedir ajuda aos nossos inimigos. Eu apenas espero que não cheguemos ao quarto: quer dizer, a ocupação e a chegada dos marines.
Sarkozy e a França são nossos inimigos; eles também são inimigos de todo o Terceiro Mundo. Eles não escondem o desprezo que sentem por nós. Sarkozy apenas quer ser reeleito no ano que vem.
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O homem que organizou o encontro entre Sarkozy e os representantes do conselho nacional interino é nada menos do que Bernard-Henri Lévy, um filósofo charlatão, e para todos que não o conhecem, um ativista sionista francês que concentra todos os seus esforços em apóiar Israel e seus interesses. Nós o vimos na Praça de Tahrir apenas para garantir que a juventude revoltada não entoasse cantos contra Israel.
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O que pode ser dito enquanto esperamos pelas bombas?
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Porque as bombas não vão diferenciar entre aqueles que são pró-Qadafi e aqueles que são contra.
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Bombas colonialistas, como se sabe, tem apenas um objetivo: defender os interesses da indústria bélica. Eles venderam a Qadafi armas no valor de bilhões e agora nós lhes pedimos para destruí-las…e aí nós teremos que comprar novas armas pelo novo governo – trata-se de uma velha, bem conhecida história. Mas existem pessoas que não conseguem aprender a não ser repetindo velhos erros, cometidos tanto tempo atrás.
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Eu digo isso claramente: esse é um erro estratégico muito grande, e um erro que o povo líbio vai pagar com juros por, talvez, vários anos agora. Mais do que os anos de ditadura de Qadafi e sua família.
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Eu chamo hoje, e agora, algumas horas antes da destruição da Líbia e antes que ela se torne outra Bagdá, eu chamo todos os Líbios, todos os intelectuais, artistas, estudantes, todos, aqueles que sabem escrever e os que não sabem, todo homem e toda mulher, a rejeitar essa intervenção militar pelo USA, França e Inglaterra, e a repudiar os regimes no Oriente Médio que eles apóiam. Ao mesmo tempo, convoco todos que nos apóiam, os egípcios, tunisianos, franceses e mesmo chineses, todos os povos do mundo, nós pedimos por seu apoio e simpatia.
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Mas quanto a governos, seja qual for o governo, não pediremos nada além de nos deixarem em paz, de nos deixarem resolver o problema de Qadafi nós mesmos.
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Saoud Salem
Anarquista Líbio
17 Março de 2011
Tradução: L.M.

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