A questão do comunismo é uma
questão de próprio interesse, de nos livrar da pobreza crescente
que nos ameaça e da miséria generalizada que nos assola que o
processo de reprodução do capital implica nos dias atuais.
A
abnegação e o “espiríto de sacríficio” são contra
revolucionários.
O processo histórico de
constituição do comunismo “é o movimento real que abole o atual
estado das coisas”, que está implicado no modo como se configura o
atual estado das coisas. Foi dentro desse estado de coisas que nos
fizemos quem somos, foi esse estado que proporciona possibilidades e
desejos cuja realização são por ele entravadas. A subversão
implica algo que seja “subversível” e um novo estado de vida
possível a partir dela mesma.
Ter
consciência “teórica” de uma coisa, por si só, não faz com
que haja um conhecimento mais rigoroso dessa coisa, de nós mesmos ou
que tenhamos necessariamente uma atuação mais eficaz em relação a
ela. Diz simplesmente que temos uma teoria, o que é um indicativo do
nível de nossa pŕatica. Uma teoria só é revolucionária na medida
a que serve a propósitos revolucionários, na medida em que é uma
reinterpretação que transforma o mundo e a nós mesmos de forma
radical.
De modo análogo, estar dentro
de uma organização “revolucionária” e cumprindo/fazendo certas
tarefas/atividades que podem qualificá-lo como militante não fazem
um indivíduo “mais revolucionário”. Não há garantia nenhuma
que a revolução fique mais próxima por causa dessas
tarefas/atividades.
Acreditar que uma
posição dentro de organização X ou Y, e uma atuação
correspondente, por si só já o aproximam da Revolução, tem uma significação
semelhante a achar que uma devoção à crença X ou Y o aproxima de
Deus; pelo menos, segue a mesma lógica.
Achar que essa posição o
qualifica acima de qualquer outra pessoa é um erro perigoso, que
curiosamente pode levar a “atividade revolucionária” a cumprir o
papel que antes era reservado à religião, a de ser:
“(...)
de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto
contra ela; o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo
sem coração, o espírito de uma situação carente de espirito; o
ópio do povo.”
O
que faz com que o militante e o líder político cumpram a função
dos sacerdotes, a de especialistas da miséria,
mesmo que inconscientemente. Esse fato não faz com que toda a
prática e teoria desses especialistas seja sem valor, do mesmo modo
que o caráter burguês de Adam Smith ou Ricardo não impediram suas
teorias de terem valor. Ele apenas indica os seus limites reais.
A
própria materialização dessa crítica indica que a
superação desse papel já está engendrada nas atuais formas de
vida e resistência; e pode-se dizer que é assim faz mais de
quarenta anos, na época em que os situacionistas fizeram uma
crítica semelhante.
A
crítica do militante não interessa só pelo que ela explicita mas
principalmente pelo que ela implica. Como diz Marx:
“A
exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a
exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões. Por
conseguinte, a crítica da religião é o germe da critica do vale de
lágrimas que a religião envolve numa auréola de santidade.”
O
ataque a condição do militante é um ataque as condições que
necessitam dele, que o geram e alimentam. É deste ponto de vista que
partimos para a análise dessa figura.
Para
um militante, a crítica da militância é a pré-condição absoluta
de toda crítica.
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