segunda-feira, 8 de abril de 2013

Notas esparsas sobre o amor, por Sam Fantomas, em meados da década de 70.


O casal é a segurança hierárquica de um mundo hierarquicamente inseguro: é uma segurança que apenas suaviza a insegurança que cada um sente ‘no coração’. A não ser que haja uma luta contra a dependência emocional (por ex. estendendo relações fora do "casal“; cada indivíduo escolhendo ficar sozinho por alguns períodos razoáveis de tempo; lutando contra o mundo que cria o isolamento que está na raiz da insegurança; cada uma se recusando a prestar contas ou ser responsável pelo outro; cada um amorosamente – mas também cruelmente – desafiando o outro a enfrentarem seus limites e enfrentarem obstáculos – sozinhos se necessário, etc. etc.) o laço vai ser tornar uma amarra e cada um vai se tornar praticamente um pai para o outro, estagnando em uma cabana quentinha e confortável, onde até o elemento brincalhão se torna estreito e limitado. O elemento de apoio e proteção nessa relação só é válido na medida em que é uma proteção contra a mentira do espetáculo e apenas enquanto for um apoio mútuo na ofensiva contra essa mentira  (até onde ela aparece nas relações imediatas dos indivíduos envolvidos). Nessa possível relação revolucionária comprometimento e intensidade não mais significam monogamia e  ‘responsabilidade’’, mas o envolvimento e a excitação que vem dos desafios da luta e da mudança. Apoio à miséria contra a qual não se luta não é apoio nenhum.



Aqueles que tem medo de “se envolver” como uma defesa contra a ansiedade natural de se machucar ou ficar preso vêem apenas a falsa escolha entre a possessividade neurótica versus relações ‘desapegadas’. Só que quanto mais a pessoa se guarda da dor, mais se guarda também do prazer. A questão é estar totalmente comprometido com relações onde se luta contra e se tenta atravessar a dor e a possessividade ao invés de reprimir esses sentimentos juntamente com o amor.

Fonte: Dialectical-Delinquents

Tradução: G.M.

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sábado, 22 de setembro de 2012

Poema de Sergei Iessenin


Até logo, até logo, companheiro
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.

Adeus amigo, sem mãos nem palavras
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo!

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Prenúncios de um crítica do militante (por L.M., 2010)


A questão do comunismo é uma questão de próprio interesse, de nos livrar da pobreza crescente que nos ameaça e da miséria generalizada que nos assola que o processo de reprodução do capital implica nos dias atuais.

A abnegação e o “espiríto de sacríficio” são contra revolucionários.

O processo histórico de constituição do comunismo “é o movimento real que abole o atual estado das coisas”, que está implicado no modo como se configura o atual estado das coisas. Foi dentro desse estado de coisas que nos fizemos quem somos, foi esse estado que proporciona possibilidades e desejos cuja realização são por ele entravadas. A subversão implica algo que seja “subversível” e um novo estado de vida possível a partir dela mesma.

Ter consciência “teórica” de uma coisa, por si só, não faz com que haja um conhecimento mais rigoroso dessa coisa, de nós mesmos ou que tenhamos necessariamente uma atuação mais eficaz em relação a ela. Diz simplesmente que temos uma teoria, o que é um indicativo do nível de nossa pŕatica. Uma teoria só é revolucionária na medida a que serve a propósitos revolucionários, na medida em que é uma reinterpretação que transforma o mundo e a nós mesmos de forma radical.

De modo análogo, estar dentro de uma organização “revolucionária” e cumprindo/fazendo certas tarefas/atividades que podem qualificá-lo como militante não fazem um indivíduo “mais revolucionário”. Não há garantia nenhuma que a revolução fique mais próxima por causa dessas tarefas/atividades.

Acreditar que uma posição dentro de organização X ou Y, e uma atuação correspondente, por si só já o aproximam da Revolução, tem uma significação semelhante a achar que uma devoção à crença X ou Y o aproxima de Deus; pelo menos, segue a mesma lógica.

Achar que essa posição o qualifica acima de qualquer outra pessoa é um erro perigoso, que curiosamente pode levar a “atividade revolucionária” a cumprir o papel que antes era reservado à religião, a de ser:

(...) de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela; o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espirito; o ópio do povo.”

O que faz com que o militante e o líder político cumpram a função dos sacerdotes, a de especialistas da miséria, mesmo que inconscientemente. Esse fato não faz com que toda a prática e teoria desses especialistas seja sem valor, do mesmo modo que o caráter burguês de Adam Smith ou Ricardo não impediram suas teorias de terem valor. Ele apenas indica os seus limites reais.

A própria materialização dessa crítica indica que a superação desse papel já está engendrada nas atuais formas de vida e resistência; e pode-se dizer que é assim faz mais de quarenta anos, na época em que os situacionistas fizeram uma crítica semelhante.

A crítica do militante não interessa só pelo que ela explicita mas principalmente pelo que ela implica. Como diz Marx:

A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões. Por conseguinte, a crítica da religião é o germe da critica do vale de lágrimas que a religião envolve numa auréola de santidade.”

O ataque a condição do militante é um ataque as condições que necessitam dele, que o geram e alimentam. É deste ponto de vista que partimos para a análise dessa figura.

Para um militante, a crítica da militância é a pré-condição absoluta de toda crítica.

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Em volta do fogo, dançamos (Parte 1)

“Pensa na escuridão e no grande frio 
Que reinam nesse vale, onde soam lamentos.”
 

Brecht, Ópera dos três vinténs

Mas o que é a escrita? A escrita é a guardiã da história... meio de acesso em urgência à memória coletiva...

E o que é o homem? Um escravo da morte, um viajante en passant, um visitante na terra...

O que é amizade? A igualdade entre amigos... a irmandade entre iguais, um projeto em comum, ainda que passageiro.

O nosso projeto era tentar emular, em uma micro-sociedade que seja, um núcleo de relações que fosse absolutamente antitético ao atual estado de coisas. Uma nova orientação, um espaço livre, por assim dizer. "A vida é curta, amigos, e se vivemos..."

E dessa maneira nós nos alistamos (i)rrevogavelmente no partido do Diabo -- o "mal histórico" que leva as condições existentes à sua destruição, o "lado mau" que faz história ao sabotar toda a satisfação estabelecida.

Não há momento mais lindo do que aquele em que um ataque contra toda uma ordem mundial é lançado desde uma clareira verdejante e isolada.

Desde o seu começo mais imperceptível você já sabe que, aconteça o que acontecer, muito em breve nada mais será como antes. Aquela vertigem de encarar o abismo ou o escuro da madrugada ou um  amor. A vertigem, aquele não saber o que fazer -- os sinais de que algo realmente importante começou a acontecer.

Num jogo de cartas marcadas, só restava mudar as regras pra poder vencer.

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Infância

"Havia muita coisa interessante em casa, muita coisa engraçada, mas às vezes uma tristeza irresistível me sufocava, como se algo opressivo me enchesse todo, e durante muito tempo eu tinha a impressão de viver em um fosso escuro e fundo, sem visão, sem audição e sem nenhum outro sentido, cego e semimorto..."

Máximo o Amargo

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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Guerra da rua, guerra da alma

"Quantas vezes fui um ditador? Quantas vezes um inquisidor, um censor, um carcereiro? Quantas vezes proibi, aos que mais queria, a liberdade e a palavra? De quantas pessoas me senti dono? Quantas condenei pelo delito de não serem eu? Não é a propriedade privada das pessoas mais repugnante que a propriedade das coisas? A quanta gente usei, eu que me acreditava tão à margem da sociedade de consumo? Não desejei ou celebrei, secretamente, a derrota dos outros, eu que em voz alta me cagava no valor do êxito? Quem não reproduz, dentro de si, o mundo que o gera? Quem está a salvo de confundir seu irmão com um rival, e a mulher que ama com a própria sombra?"

Eduardo Galeano, em Dias e Noites de Amor e de Guerra.

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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não só.


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