O casal é a segurança hierárquica
de um mundo hierarquicamente inseguro: é uma segurança que apenas suaviza a
insegurança que cada um sente ‘no coração’. A não ser que haja uma luta contra
a dependência emocional (por ex. estendendo relações fora do "casal“; cada
indivíduo escolhendo ficar sozinho por alguns períodos razoáveis de tempo;
lutando contra o mundo que cria o isolamento que está na raiz da insegurança;
cada uma se recusando a prestar contas ou ser responsável pelo outro; cada um
amorosamente – mas também cruelmente – desafiando o outro a enfrentarem seus
limites e enfrentarem obstáculos – sozinhos se necessário, etc. etc.) o laço
vai ser tornar uma amarra e cada um vai se tornar praticamente um pai para o
outro, estagnando em uma cabana quentinha e confortável, onde até o elemento
brincalhão se torna estreito e limitado. O elemento de apoio e proteção nessa
relação só é válido na medida em que é uma proteção contra a mentira do
espetáculo e apenas enquanto for um apoio mútuo na ofensiva contra essa
mentira (até onde ela aparece nas
relações imediatas dos indivíduos envolvidos). Nessa possível relação
revolucionária comprometimento e intensidade não mais significam monogamia
e ‘responsabilidade’’, mas o
envolvimento e a excitação que vem dos desafios da luta e da mudança. Apoio à
miséria contra a qual não se luta não é apoio nenhum.
Aqueles que tem medo de “se
envolver” como uma defesa contra a ansiedade natural de se machucar ou ficar
preso vêem apenas a falsa escolha entre a possessividade neurótica versus
relações ‘desapegadas’. Só que quanto mais a pessoa se guarda da dor, mais
se guarda também do prazer. A questão é estar totalmente comprometido com
relações onde se luta contra e se tenta atravessar a dor e a possessividade ao
invés de reprimir esses sentimentos juntamente com o amor.
Fonte: Dialectical-Delinquents
Tradução: G.M.
Estava na hora de ser dito
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