Em 1844, Karl Marx, em sua Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, já dizia: "A última fase de uma formação histórico-social é a comédia". Houve épocas em que, com o aumento da população, a coletividade só podia sobreviver praticando o canibalismo. A comédia começou quando, mesmo após a caça sistemática ter provido a tribo de recursos suficientes, os feiticeiros continuaram a persuadir membros da tribo a serem devorados.
Hoje, estamos vivendo novamente uma era de comediantes. Os primeiros a se revelarem são justamente os gestores mais imediatos e grosseiros do capital: trata-se da burocracia sindical e política. Armados da mais poderosa inépcia, incompreensão e incapacidade, eles fazem da política do capital uma grande piada de mau gosto. Os primeiros, dos quais trataremos nesse texto, por agirem como se tivessem poderes e capacidade oratória, manipulativa, que eles já não tem. O desencontro com a realidade seria trágico, se não fosse cômico; afinal, apesar deles não perceberem, a própria dinâmica do capitalismo tornou a sua máquina organizativa, os sindicatos atrelados ao estado, ultrapassados: e o que são sindicalistas sem máquina?
Eles são o que vemos hoje em dia: pequenos humoristas! Vejamos, por exemplo, o modo como organizam suas marchas e revindicações hoje em dia:
- O primeiro passo é lotar ônibus com gente, o maior número possível de pessoas, só que sem muita propaganda. Propaganda dá muito trabalho e pode fazer surgir um debate, que a máquina não pode mais controlar. Então, o maior número possível com a menor qualidade organizativa necessária.
- No ônibus, os dirigentes não se dão ao trabalho de simular uma discussão. Apenas apresentam um programa que não se sabe de onde vem, para em seguida discorrer sobre o que realmente importa: o lanche, o almoço e a hora de ir embora. Por quê, onde, como? Não se sabe, não importa: apenas façam o que queremos e tudo terminará bem.
- Deveria ser feito um manual do discurso sindicalista: Fale, grite, rosne; cite números, estatísticas, 50% de aumento em sabe-se lá o quê, taxas com siglas obscuras, exija e ameace com sua retórica. Não se esquecendo do mais importante: as pessoas devem tratar o que você fala como música de fundo, ou como mais um ruído que atrapalha a conversa.
- No protesto propriamente dito, negocie. Não importa com quem, nem por que. Negocie e deixe os azarados ou “espertos” que te seguem esperando. Negocie até acabar a parte relevante e todos ficarem mais desmotivados ainda com tudo isso. Acima de tudo: não discuta com seus co-manifestantes o que está acontecendo. Isso atrapalhará o processo de desmotivação.
- Logo depois vá embora. Sem explicação: diga que o trânsito está ruim, que alguma coisa (se não for vago, não vale) deu errado. Então volte no ônibus e cuidadosamente recuse qualquer discussão. Faça piadas e converse, mas não incentive discussão! Aja como se fosse um guia turístico, acima de tudo.
Se hoje em dia a comédia não convence mais ninguém, o personagem não se importa: cumpre seu papel. Ele não percebe que se riem da sua atuação, é por desprezo e não admiração.
(Continua)
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A pseudo-comunicação é fácil demais.