A MISÉRIA DO ESTUDANTE BRASILEIRO
Um estudo sobre a miséria reinante do meio estudantil, em seus aspectos econômicos, sociais, psicológicos, sexuais e especialmente INTELECTUAIS. E sobre alguns meios para saná-la.
“Ninguém é mais irreversivelmente escravizado do que aqueles que falsamente acreditam ser livres.” - Johan Wolfgang von Goethe
I
O estudante no Brasil é um ser miserável. Ele não é somente afligido por uma miséria material latente, que é óbvia e visível a todos, mas também por uma miséria intelectual, criativa e de iniciativa generalizada que o assombra e aparentemente impede de ver e lidar com seus problemas.
Pois embora seja verdade que o estudante só partilhe da pobreza geral da sociedade, e não poderia ser de outro modo enquanto ele faz parte dela, vê-se que algo o diferencia dos demais miseráveis do capitalismo contemporâneo brasileiro, especialmente aquele que estuda nas escolas particulares do ensino médio e posteriormente nas variadas faculdades, algo que o faz digno da pena de uns, da condescendência de outros e do desprezo de todos.
O que os os diferencia é o conjunto de convicções que esses estudantes mantém sobre sua condição: eles se julgam numa posição privilegiada, melhores, mais cultos e no final das contas, destinados a funções de prestígio e comando, como produto direto do seu período de estudo formal. Eles acreditam que podem escapar ao destino dos demais assalariados e garantir seu quinhão da riqueza produzida, a parcela mais suculenta e sofisticada. Não...esses estudantes não partilharão do destino de um pedreiro ou mecânico de carros!
Pelo menos, é o que gostam de pensar. Mas enquanto alimentam essas ilusões, contribuem para a manutenção de relações sociais baseadas na opressão de classe e nas leis do mercado, fortificam a alienação e a mistificação que mantém a miséria geral participando delas. E o fazem conscientes da natureza do que estão fazendo: justamente por saberem o quanto o mercado é impiedoso é que estudam e por saberem que não há lugar para todos é que se matam a decorar seus verbetes e conceitinhos prontos, de modo a tentar garantir uma vaga na universidade, depois outra no mercado de trabalho. E eles o fazem entusiasticamente! De um modo muito parecido com as vacas de nossas pecuárias no caminho do abatedouro, mas com uma diferença: as vacas sentem o que lhes espera.
Isso porque, desse modo, eles ajudam a construir e perpetuar uma mundo que lhes prepara um futuro nada brilhante: um horizonte em que disputarão ninharias “intelectuais” entre si, em que a sobrevivência se sobrepõe a vida e em que a própria vida vira mercadoria. E o pior: nesse mundo, eles nem mesmo terão a consolação de verem suas pretensões ao privilégio confirmadas. Serão, no máximo, pequenos burocratas e funcionários intermediários, sempre em posições subalternas. Isso se conseguirem emprego, pois sabe-se que não há lugar para todos.
Pois a realidade, em desacordo com o senso comum, lhes impõe uma verdade brutal: o conhecimento formal que lhes é enfiado na cabeça e garganta abaixo não garante de forma alguma que seu detentor tenha algum poder real na sociedade capitalista, pois o que conta aqui é única e tão somente a quantidade de capital disponível em suas mãos. O estudante não tem poder algum: nem sobre os outros, nem mesmo sobre a própria vida.
As ilusões que ele consome para manter sua pretensão ao prestígio são justamente o empecilho principal para a percepção de sua real miséria e para qualquer possibilidade de obter um poder efetivo sobre o curso de seu destino. Elas são o script que o mantém desempenhando seu papel necessário a ordem das coisas. E elas existem justamente em função de sua falta de autonomia e do espetáculo em que ele está inserido.
Foi dito aqui que o estudante é desprezado por todos. Pois bem, a maioria despreza e trata com condescendência (o que é a mesma coisa) os estudantes por razões falseadas e construídas ao longo do tempo pela ideologia dominante. Despreza-o por uma suposta boemia e vadiagem, por uma suposta inconsequência, trata-o de forma condescendente quando se revolta, repetindo à o bordão da Revolta da Juventude, supostamente necessária a ordem natural da sociedade coisificada.
O objetivo dessa série de textos que se inicia aqui é, justamente, demonstrar as razões pelas quais o meio estudantil é de fato desprezível. Denunciar e desmascarar a mediocridade de sua condição e de suas tentavas de se fingir rebelde. Denunciar também, cada ilusão que alimentam, cada sonho pueril que lhes é inculcado e consequentemente o mundo fundamentalmente mentiroso que que está por trás disso tudo. Mostrar, enfim, o que o mundo dos vestibulares, das academias, dos funcionários eficientes e bem comportados, o mundo da mercadoria, tem a oferecer a esses estudantes.
Esperamos, desse modo, ajudar o leitor, caso este partilhe dessa lamentável condição, a fazer uma escolha consciente, num modo de vida que lhe pretende privar de escolhas: ou perpetuar a mentira de seu privilégio e um mundo baseado em mentiras ou reconhecer a verdade de sua miséria e lutar pela subversão total desse mundo. Aos que escolherem a mentira, esperamos fazer ao menos que sintam o peso do ridículo da sua situação, com o conhecimento de que sua farsa foi tornada pública.
Pressupomos, naturalmente, leitores que estejam preparados para conhecer e aprender o novo, de modo a levar o processo de pensamento, da crítica e de sua realização adiante. E, é claro, que estejam dispostos a escolher por eles mesmos. Daqueles que esperam soluções fáceis e prontas, que procuram uma nova teoria da moda a ser consumida de modo embasbacado e acrítico, uma escolha já feita ou induzida, não queremos nada mais do que o seutotal desprezo e a condenação; afinal de contas, apesar desse princípio diplomático ter sido desmoralizado pela ONU e pelos diplomatas presumidamente profissionais ao redor do mundo, prezamos pela reciprocidade de relações.
Le Miserablé, Brasil, 7 de setembro de 2009.
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